sexta-feira, agosto 19, 2011

VIDA E MORTE NO SANATORIO, ENTRE 1944 E 2009





Olá amigos, Feliz Ano Novo para todos. Pois é, tenho andado meio preguiçosa, mas hoje, venho aqui colocar o relato de 2 casos nada de especial, mas que são testemunhos, de fé, e de descrença, com as consequências que daí podem advir. Este tema foi sugerido pelo nosso amigo Ice, e esta é a minha história, verídica, e que eu acompanhei de muito perto, vamos lá então
Vida e morte num sanatório entre 1944 e 2009 Conheci a Milú tinha eu na altura 18 meses, e ela 12 anos. Quando digo conheci, aos 18 meses, não se pode conhecer alguém, e para mais eu, que era cega de nascença, por aquela altura. A Milú era filha única, dum casal formado por pessoas rudes, e por ventura brutas também, talvez pelo facto de que usavam e abusavam do vinho, coisa que na época era absolutamente normal. Era uma menina, muito bonita, que despertou a atenção dos meus tios, solteiros na altura. Como tudo começou, eu não sei bem, mas sei que ela, devido a uma gripe, contraiu o bacilo de da tuberculose, aos 13 anos de idade. Lembro-me de que namorou o meu tio Abílio, e que entre eles houve relações sexuais, o que na altura era um escandalo. Pois moça a quem isso acontecesse, ficava marcada para toda a vida, se o namorado por qualquuer razão não quizesse casar com ela. Foi exactam ente isso que aconteceu. Ela dizia ter sido o tio Abílio o primeiro e único, ele dizia ser mentira, e que o primeiro fora o tio Zé. Enfim como foi ou não foi, eu não sei. Só sei que a grande paixão dela, foi o tio Abílio. Bastante doente, com hemoptizes continuas, foi mandada para o Sanatório do Caramulo, onde passou alguns meses. Mandava fotografias, com outras doentes, mas ela era sempre triste. Voltou do sanatório, e como a paixão solapada, pelo Abílio era grande, e a tornava amarga, ela era por vezes mal educada e respondona para com os pais, que lhe davam grandes sovas. Eram aliaz frequentes as zaragatas naquela família. Se a Milú tossia, a mãe ralhava com ela, o pai ralhava com a mãe, e os meus avós ralhavam com os pais, era uma briga constante rsrsrsr. Depois desta explicação, realço apenas o facto de a Milú, ser uma pessoa, amarga, sem fé nem esperança. Vivia obsecada com o meu tio, e para além disso nada mais importava. Seca, desprendida, invejosa, nunca aceitou a sua condição de doente, nem nunca quis aceitar a cura, que por várias vezes se avizinhou. Ela era e queria ser, a coitadinha, a desgraçadinha, infeliz e doente. O meu tio não alimentou aquela situação, e casou com outra. Cá para nós, conhecendo bem o meu tio como conheço, penso que possivelmente, “não foi ele” rsrsrsr. Dada como curada, mais do que uma vez, não sei muito bem porquê, a doença retornava, e vinha sempre com mais força. Entretanto Milú casou. E infernizou a vida ao coitado do marido.Nessa altura eu já pouco convivia com ela. Mas sei que continuava a eterna revoltada, que não acreditava no bem, para ela só o mal existia. Até que 13 anos após ter odoecido, ela baixou ao Sanatório do Lumiar, hoje conhecido por Hospital Polido Valente, e lá, entre uma e outra hemoptize, sempre sem Fé e sem Esperança, possuida, por uma enorme revolta, acabou por falecer, aos 26 anos de idade. Por tudo isto, Milú foi a morte. O meu tio Zé, mais ou menos, em meados dos acontecimentos atrás relatados, conheceu a que é hoje minha tia, e que tinha, na altura mais 3 irmãs e 1 irmão, mais novos. Quando o meu tio casou, tinha eu 4 anos, e já via Graças a Deus, foi padrinho de casamento o meu avô paterno, nunca percebi bem porquê mas enfim. Como a senhora com quem o meu avô vivia, precisava duma criada, simpatizou com Clementina, irmã da minha tia, que era também muito bonita, e tinha na altura 12 anos. Assim, Clementina foi trabalhar para casa do meu avô. Mas este meu avô, valha a verdade, e á luz dos acontecimedntos recentes da nossa sociedade, foi também pedófilo, pois já com 47 anos de idade, seduziu a menina de 14 anos. Contudo, foi um amor verdadeiro, e juntou os trapinhos com ela, deixando a tal madama. Clementina, engravidou aos 15 anos. Durante a gravidez, e não sei como, contraiu também tuberculose. Eu era pequena, pois tenho mais 7 anos que o meu tio, filho dela, e não sei bem como tudo aconteceu. Sei que o bébé nasceu, veio para casa dos avós, e a Clementina, ficou internada no hospital. Este internamento prolongou-se por 10 meses. Durante esse longo tempo, ela nunca viu o filho. Mas nunca perdeu a Fé, nem a Esperança. Um dia, ouvi contar, depois duma radiografia, foi-lhe sentenciado um corte de costelas, termo que então se usava, para designar uma intervenção cirurgica aos pulmões. Contava ela que nesse dia, orou, orou muito, para que lhe fosse dada a graça da cura, a fim de poder conhecer e criar o filhinho. Cansada adormeceu, e dizia que, teria sido acordada com um leve afago, e que quando abriu os olhos, viu a figura da Imaculada Conceição, que a afagou, e que lhe teria deixado sobre os pés um pedacinho de tule, uma reliquia que ela guardou sempre, com toda a fé e respeito. O certo é, que ao fazerem-lhe novos exames, preparativos da intervenção cirurgica, os médicos verificaram que ela não tinha o mais leve vestígio de tuberculose. Clementina, voltou para casa, criou o filho, e foi mãe de outro 2 anos mais tarde. Muito trabalhadora, foi uma moira de trabalho toda a sua vida. Mas também foi uma mulher boa, doce, meiga,e que nunca se revoltou contra a vida. Temente a Deus, pessoa de muita fé, sempre seguiu a sua vida com muita alegria de a viver. Por esta altura, e como o meu avô era meu padrinho, eu passei a chamar-lhe madrinha, pois não me parecia berm chamar avó a quem era mais velha do que eu 8 anos rsrsrsrsr. Lembro-me que o meu avô esteve muito mal com uma trombose, Clementina, tratou-o com desvelo, apegou-se á sua Fé, fez uma promessa a Srª de Fátima, e o meu avô curou-se, sem sequelas. A Fé move montanhos, assim se diz. Só que mais tarde, levado por outra seita religiosa, o meu avô renegava aqueles acontecimentos, dizendo serem obras do demo. Mas Clementina, muito embora não o contrariasse, sempre acreditou. E foi essa sua confiança, e esse seu acreditar, que lhe deram força, para viver, e ser feliz. Faleceu há 3 meses, com 77 anos, e deixou muita saudade. Clementina, foi a vida! Quero ainda frizar, que estes 2 casos, de doença, ocorreram na mesma altura, sensivelmente, e elas tinham, pouca diferença de idade, Milú era só uns 2 anos mais velha. E conheciam-se. Lylybety
Publicada por lylybety em 9:29 PM  
Etiquetas: contos, morte e vida num sanatorio

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