MEUS POEMAS 2

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TUDO É VÃO!!!
Horas do meu contentamento
Nunca me pareceu, quando vos tinha,
Que vos visse acabadas, tão asinha,
Em tão compridos dias de tormento...

Aquelas torres que fundei no vento,
O vento as levou, já que as sustinha.
Do mal que me ficou, a culpa é minha,
Que sobre coisas vãs, fiz fundamento.

Amor, com rosto ledo, e vista branda,
Promete, quanto dele se deseja;
Tudo possível faz, tudo assegura,

Mas, quando numa alma reina e manda,
Como na minha fez, quer que se veja,
Quão fugitivo é, quão pouco dura...

Maria Isabel Galveias   
Ramada-11-01-002

TROCADILHOS

Quem por amor não descansa, cansa;
Quem passa o mar rompendo a terra, erra;
Porque da terra se desenterra, terra,
Sem vã cobiça, que foi mansa, mansa;

Quem não quer mudança, dança;
Quem a nada se aferra, ferra;
Assim, tudo o que se desencerra, cerra,
Porque enfim, nada em balança, lança.

Quem andar neste pressuposto, posto,
Atente bem em que demanda anda,
Primeiro que lhe seja a vida, ida;

E se pretende Ter sem desgosto, gosto,
Cumpra com quem nunca desmanda, manda,
Porque á tal vida, é devida a vida.....

Maria Isabel Galveias   
Ramada, 03-03-002


SE ALGO APRENDI

Se o fruto já maduro da experiência
Me deu do amor algum conhecimento,
Só sei dizer em meu entendimento
Saber que transcende toda a essência

Se de mim mesma sem saber m'olvido.
Querendo morrer d'amor por minha sorte
Quantas vezes morri sem ter morrido,
Sem a morte ser culpada de tal morte,

E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa não d’agora mas eterno.

Sem sentir ao morrer nenhuma dor
Com minh'alma meu coração concorda
Será ela  eterna como o meu amor.

Maria Isabel Galveias

SE...SE..SE..

Se o dia descobre no meu rosto
A sombra da luz de um astro ferido
Verá o abismo do amor nunca vencido
Vencendo a agonia e o desgosto

Se despontar a paixão pela manhã
Corro plas setes cidades do teu riso
Correndo como um gamo levo um guiso
Ou serei peixe nadando em maré chã

Em cujas águas puras nos amamos
A tua voz doce diz-me coisas sentidas
Segredos nossos cantares de amigo

Luas ambarinas estendem o manto
Na emudecida dor das pedrarias
Das  lamentações por elas ouvidas

Arroja, 3 –2-2006
Maria Isabel Galveias

SILÊNCIO DE DOR

De silêncio fiz meu constante brado,
E ao que quero costumo sempre opor
O que devo, rumo por mim traçado.
Será maior a glória ou minha dor?

Anseios me atravessam, lado a lado,
Numa aventura que não posso expor.
Trago nas veias lírico fervor
Sentindo que nasci para o pecado

Amei como ninguém pode supor
Desespero que não podia ser maior
Se a meus dias só angústia me hei dado

Será a alegria de não ter pecado
O sofrimento por mim supliciado
Ou mágoa da renúncia deste amor?!...

Maria Isabel Galveias

SONETO PARA UM DIA TRISTE

Volvo os olhos ao céu de luz divina
E observo-me pigmeia e pequenina
Através de minúsculos espelhos.
Sinto a vontade de cair de joelhos!

Soa o rumor fatídico dos ventos,
Anunciando desmoronamentos
De mil lajedos sobre mil lajedos...
Nas pontas escarpadas dos rochedos!

Mas de repente, num enleio doce,
Como se num sonho arrebatada fosse,
Na ilha encantada do meu vago sonho


No meio do qual, á luz intensa, brilha
A árvore da perpétua maravilha,
À cuja sombra meu descanso ponho

Arroja, 20-2-2006
Maria Isabel Galveias
Tarde Cinzenta
Tarde de outono, tão cinzenta e triste
Uma chuva miudinha vai caindo
Nas árvores num lamento que persiste
Folha a folha lentamente vão despindo

Já não são verdes folhas, são douradas
As ruas que cinzentas e molhadas
Recebem a folhagem que fenece
E os poucos raios de sol que não aquece

Com o Outono, eu me identifico
As lágrimas são chuva que em mim cai
Cinzento o meu olhar no infinito

Vendo nuvens brancas que vão passando
Levadas por um vento fraco e brando
Num sol triste e sem brilho que se esvai

Arroja, 20 de Janeiro de 2006
Maria Isabel Galveias

TEMPO PASSADO

Todo o meu passado me persegue
Com a vida que passou e não vivi
Todo o meu presente se desvanece
O meu caminho está chegando ao fim

Olho em meu presente e nada vejo
Olho em meu redor, estou sozinha
Nunca realizei um só desejo,
Sou corpo, sem alma, que caminha.

Fui a amada, que o amor matou
Fui uma violeta perfumada
Fui a que nunca, t’amaldiçoou

Sou uma rosa branca desfolhada
Meu olhar, em mármore se tornou
Vendo passar o tempo, que passou....

Arroja, 13-7-00
Maria Isabel Galveias

TERRORES INFINITOS

Meus sonhos de fantasmas povoados
Sem nexo só uma ilusão vivida
Vendo corpos e rostos desfigurados
Como desfigurada ando na vida

Esqueletos sem forma e sem cor
Numa dança esquisita e macabra
Tudo que neles vejo é um horror
Ora dormindo ora estando acordada

Vagueiam toda a noite plo meu quarto
Pairando sobre mim em desvario
Sem dó nem piedade e sem recato

Deixam-me exangue a tremer de frio
Sonhos que ao que parece não me farto
Saem dentro de mim tal qual um rio

Maria Isabel Galveias

TERRORES ETERNOS
Estou sozinha.A estrada se desdobra
Como uma imensa e rutilante cobra
De epiderme finíssima de areia...
Que, ao sol, em plena podridão, passeia!

A agonia do sol vai ter começo!
Caio de joelhos, trémula... Ofereço
Preces a Deus de amor e de respeito
Á saudade interior que há no meu peito...

Tenho alucinações de toda a sorte...
Aterrorizada vejo a  fria Morte
E sentindo o que um Lázaro não sente,

Em negras nuançes lúgubres e aziagas
Sentindo o frio de terríveis adagas,
Atravessar meu peito bruscamente.

Poceirão, 16-1-2006
Maria Isabel Galveias

UM AMOR NÃO MUDA

Se um amor faiscar na medula
No seu rugido nada tem de prece.
É uma aranha invisível que o tece
Em amor tecido que não traz ventura

Mas, sendo mal, sofrê-lo faz-nos bem
Nada acrescenta de nada se priva
Feliz daquele que sofrendo tem
Dentro de si a alma estando viva

Não muda a sua essência primitiva
Pode haver mais calor, menos calor
Não trás mudança, é somente vida

Sendo uma fria serena claridade
Possa, embora, mudar de forma ou cor.
Não muda de amor para amizade

Maria Isabel Galveias

VAGABUNDOS DA VIDA

Vícios paixões, crimes, ódios  erros,
Na marcha, de roldão, andam fraternais
Com bandidos, burgueses rombos, perros
Felinos  mastins, macacos e chacais.

Aos sobressaltos vão como visões, fantasmas
Bichos de toda a casta, anões de chapéu alto,
Deixando em convulsão todas as almas pasmas
A Terra num tremendo e fundo sobressalto.

Nas  praças, ao sol, confundem-se os bramidos,
Os uivos misturados de humana expressão
Traves  do sussurro e bruscos alaridos

Das chacotas bestiais, dos risos trovejados.
Em passo marcial eles lá vão
Nos longos sóis sem terra caminhados

Arroja, 20-10-2005
Maria Isabel Galveias

VERTIGEM

A lâmpada a irradiar estranhos brilhos
Lambe o ar. No bruto horror que me arrebata,
Como uma degenerada psicopata
Eis-me a contar o número dos ladrilhos

- Um, dois, três, quatro... E aos tombos, tonta
Sinto a cabeça e a conta perco; e, em suma,
A conta recomeça, em ânsias: - Uma...
Mas novamente eis me a perder a conta!

Sucede a uma tontura outra tontura.
- Estarei morta?! E a esta pergunta estranha
A luz do quarto diminui se acanha

Em Apocalipse que a alma me tortura
Mostra-me a vida - aquela grande aranha
Que anda tecendo a minha desventura! –

Arroja 12-1-2006
Maria Isabel Galveias

VIGILIA
Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego

A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
Quem sou? Pr’onde vou? Qual minha origem?

Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensanguento na vigília!

E observo, enquanto o horror me corta a fala
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília

Arroja, 28-2-2008
Maria Isabel Galveias
A VELHICE CHEGOU
Sobre a penteadeira o batom largado
A tintura de cabelo na gaveta esquecida
O sapato de salto alto no roupeiro guardado
E parto agora para minha nova vida.

Aposento nesse instante meu espelho
Que na mocidade sempre me deu conselho
No armário roupa garrida não restou.
Foi a idade implacável que chegou.

O passar dos anos, meus encantos roubou.
Tudo que o tempo  decidiu por me dar
Para que eu pudesse em paz envelhecer

Foi pôr em meus lábios em tom que lhes ficou
Meus cabelos em branco e cinza igualar
E fez de mim o que em verdade hoje sou

Maria Isabel Galveias

ERA ASSIM O MEU NATAL

Com meus olhos húmidos de pranto
E, através das pupilas embaciadas,
Vejo o desfile de ilusões passadas
Numa mistura d`alegria e encanto.

Quantas memórias há daquele recanto
Onde eu ouvia histórias encantadas
De príncipes, de duendes e de fadas,
Que me faziam estremecer de espanto.

A minha Avó contava-as de memória
Olhava-me docemente enternecida
Como se fora eu a princesa d´ história.

E hoje, quanta saudade dolorida,
Desses tempos em que eu tinha a glória
De ser uma princesa em sua vida....

Arroja, 12-10-2005
Maria Isabel Galveias

INSONIA

Está uma noite calma e quente
Sinto em mim um vazio angustiante,
Já tudo dorme, não há ruídos
Oiço apenas o zunir dos meus sentidos.

Não sei meu Deus, o que me angustia
É uma sensação escaldante e fria
No meu coração, triste insone...
Não acompanhando a noite que dorme.

Vou á janela, olho para a rua
Nada se vê nesta noite escura...!
Nada se move. Só a Lua se avizinha.

Esperem! Vejo alguém que-parece nua!?
Uma sombra que não anda, só flutua...
Reconheço, minh´alma errante que caminha...!

Setúbal 22-8-006
Maria Isabel Galveias

ROSAS
Sentada neste jardim, sob este vento,
percebo entristecida, ar contrafeito
que as rosas vão morrer e me lamento
pois morro a morte delas no meu peito.

Por isso, olhando-as, já não me deleito,
sinto, ao contrário, um grande desalento.
Sem rosas o jardim que era perfeito,
perde as cores, o olor, o movimento.

Quando as rosas caírem pelo chão
(as rosas, rosas, brancas, amarelas)
em pouco tempo, todas murcharão.

Eu vou ficar chorando perto delas
sabendo que outras rosas nascerão
para depois morrerem, como aquelas.

Maria Isabel, Galveias,
Ramada, 4 de Maio de 1999

TAL COMO A LUA
Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse lampadário.


E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vario.


Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbula da Dor e da Saudade.


Ah! Como a branca e melancólica lua,
Também envolta num sudário - a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!
Arroja, 24-2-2006
Maria Isabel Galveias

PASSEIO AO PASSADO

Eis me passeando como um grande verme
De linda e finíssima epiderme
Como quem diante duma cordilheira,
Pára, assombrado, pela vez primeira,

Lá ao longe soam trágicos fracassos
De heróis, partindo em ternos abraços
Gozei numa hora séculos de afagos,
Banhei-me na água de risonhos lagos,

Enviando á terra os derradeiros beijos.
Pela estrada a tocar dois realejos
Deixavam tristes sonatas de saudade

E em rudes golpes arrancaram as raízes
Que prendiam os meus dias infelizes
Presos ao sonho antigo de felicidade!

Piedade 17-2-2006
Maria Isabel Galveias 

O QUE TU TENS
Tens um mistério de infinita subtileza
Da imensidão do mar, a correnteza
Do Universo, o poder de inexplicável grandeza
Do amor, tens a mais pura leveza!

Dos beijos, o inigualável sabor
Do toque, tens a paixão ardente
Da pele, a maciez simplesmente
Do sexo, do carinho, o mais puro amor!

Tens a calmaria das águas paradas
Tens o dom de fazer-me amada
Tens o frescor da brisa matutina

Tens o conforto de sonolentas madrugadas
Tens o calor e o sossego da alvorada!
Tens o poder de me tornar menina

Maria Isabel Galveias

POEMA DA COR DO LILÁS

Sempre  juntas, nunca separadas,
Duas hastes se erguendo fortes
Presas, unidas num mesmo suporte
Gémeas, ardentes, novas, inspiradas;

Vendo cair as finas orvalhadas,
Sentindo o coro harmónico das fontes,
Olhar fitando a cúspide dos montes
E o rosicler das frescas alvoradas;

Sempre embebendo os límpidos olhares
Na claridão humildes dos luares,
No loiro sol das crenças se embrenhando,

Vão as nossas almas brancas sonhando
O futuro que um dia lhes, darás
Com teu poema da cor do lilás

Arroja, 22-10-2005
Maria Isabel Galveias


PAIRAR NO INFINITO

Fria  noite, duma frieza intensa
De  nublosa lua e nevoeiro.
Oiço as folhas do cedro e do pinheiro.
Num soluçar de dor, e mágoa intensa

Tudo me faz parecer, demasiado
Estranha, esta noite de infinita espuma.
Como halo de lenda de luar e bruma.
Num lago a alma é lírio afogado

Ah! descansar, ser alma simplesmente,
Na vaga névoa subir, subir suavemente
Como  uma chama a subir e a pairar

Indiferente findar no abismo tenebroso!
Vagamente sonhar ... ou nem sonhar!
Dispersar-me sim, no infinito silencioso.

Piedade, 13-5-2000
Maria Isabel Galveias

MONOLOGO DA MINHA ALMA

"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das quimeras
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,

A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota nómada rota, vibra
Alma de movimentos rotatórios...
E a morbidez dos seres ilusórios!

E o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando grandíloquos massacres,
Há-de ferir-me as auditivas portas,

Até que minha efémera cabeça
Reverta á quietação da treva espessa
E à palidez das fotosferas mortas"

Arroja, 20-2-2006

MEUS OLHOS

Serenos como um lago são meus olhos
Têm a cor dum verde indefinido
Ou azul esverdeado confundido
Com o azul do mar em seus escolhos

O seu olhar flameja nas imagens
Que outro olhar deixou em minha alma
Tirando a serenidade e a calma
Levando o lago para lá das margens

São verdes por olhar o verde mar
Por onde seu amor partiu um dia
Sem deixar a esperança de voltar

E sempre ao toque de avé Maria
Olhando a para o mar vão esperando
Enquanto de saudade vão chorando

Arroja, 24-10-2005
Maria Isabel Galveias

ALTIVEZ

Tenho porte de rainha, sou altiva!
Mas tu ao negares-me o teu amor,
Ao consentir falar-me por favor,
Quiseste transformar-me em mendiga.

Meu orgulho, mais alto, porém se ergueu,
Não te mostrou minha alma ferida,
Meu coração, de ti, se desprendeu,
Minha torre de marfim, foi defendida!

Assim, vou caminhando, nesta vida sem sabor,
Muito embora sonhando o teu abraço,
Nesta saudade infinda, ainda te espero,

Tentarei amar, seja a quem for...
Farei seja o que for, por desespero,
Mas mendigar o teu amor... Isso não faço!!!
Maria Isabel Galveias
Arroja, 24 de Setembro de 1999

SEM  RUMO

Ao correr da pena, vou escrevendo,
Meu rosário de penas, desfiando,
Com a morbidez duma alma ferida,
Sinto, que p´lo destino, fui traída.

Minha voz, tenho sempre de calar...
Meus sentimentos, recalcar...
Deste modo, me consumo e me apago,
Como em cinza, se consome, o meu cigarro.

Como um barco, sem rumo, nem vela,
Perdido, no mal alto da vida, tenebroso...
Sem bússola que me guie, sem uma estrela,

No céu azul escuro, tempestuoso,
Como gaivota ferida, numa asa,
Que não encontra o caminho, para casa...

Maria Isabel Galveias

COMO AMA UM PASSARINHO?

Bate as asas alegremente e voa
O lindo passarinho, que tem ninho
E não tem um coração que chora
como há tantos corações pelo caminho...

Se tem manhãs de flores e sol, entoa
canções alegres para a amada com carinho,
também canta, feliz, se chove ou nevôa...
Ah, como é feliz a vida de um passarinho!

-Mas, diz-me, passarinho, eu desafio,
que reveles, se nos amores que já tiveste...
houve algum que se assemelhe a este

que me põe chorosa, enquanto me inebrio
com teu canto lindo...Um amor que viveste
que fosse sonho fosse mar ou fosse rio...?

Arroja, 21-10-2005
Maria Isabel Galveias

AMOR,VIRTUAL AMOR!

Palavras de amor, que brincando me dizes
Entram na minha alma, devagar
Fazem-me sonhar sonhos felizes
Que findam, de manhã, ao acordar.

Mas é bom, mesmo que seja só um sonho
Mesmo que para ti não seja igual,
Fazem, brilhar o Sol, no dia mais tristonho
É esta a virtude do mundo virtual

Penso pra mim, Ah! Se fosse verdade.
Que alguém enfim me desse amor
Amor verdadeiro que nos aquece e arde,

Num sentimento, puro, sonhador.
Embora para amar, já seja tarde...
Porém sonhar, fez-me sentir melhor!

Maria Isabel Galveias

DISTÂNCIA DE MIM

Não sei que sinto em mim, estou ausente,
Longe de mim em tão longa distância,
Numa imensidão, tão vasta e tão carente,
Da sede de viver, sinto a carência.

Ai de mim! que estou tão longe, tão distante...
A milhentas léguas do que preciso,
Numa vida de tão curta permanência,
Que permanentemente me rouba o teu sorriso.

Tão longe estou meu Deus! e, tão sozinha...
Olho pra trás, vejo na distância percorrida,
Pegadas de rumeira que descalça caminha,

Não encontrando a terra prometida,
Do leite e mel que me alimentaria a vida,
Se a vivesse a teu lado enternecida.

Maria Isabel Galveias
Poceirão, 2 de Junho de 2004

EMBUSTE
A minha alma em voo largo e ufano
De repente triunfal, de súbito gloriosa,
Tem a pompa de sol, vermelha luminosa,
Ou púrpura do manto dum  romano.

Esse  fulgor, vem dos sonhos dispersos
Névoas do passado, errantes e dolentes
Dar-me corcéis fogosos e frementes
Para atrelar, ao carro destes versos.

Claramente recordo e penso nas estradas
De ilusões que percorri sozinha
Feliz por ser a mim que tu amavas

Quando em febril amor m´embriagavas
Não via a mentira que então vinha
Embuçada na doçura das palavras....

Poceirão, 14-10-2005
Maria Isabel Galveias

MONTE DA PIEDADE

Neste belo e claro monte
Estou sentada meditando
Vendo a tarde declinando
E o Sol desaparecendo
Na linha do horizonte
Está uma tarde calma e bela
Reluz no céu uma estrela
Já a Lua se avizinha
Vem chegando de mansinho
A iluminar o caminho
Á noite que está sombria
O meu olhar vai vagando
Perdido no infinito
E somente oiço o grito
Ou piar aflito
Dum mocho que sai voando
O vento sopra a folhagem
Árvores abafam gemidos
Vem acordar os sentidos
Que se perdem na paisagem
Vibra toda a natureza
Num murmúrio confundido
Com um lamento dolorido
Parece que chora e reza.
Na mata ouvem-se os grilos
Há cigarras a cantar
Nesta noite de luar
Que calma nos dá ouvi-los
Canta agora um rouxinol
Um cântico angustiado
Infeliz, martirizado
Como é triste o rouxinol
Há alegria e tristeza
Bulício e tranquilidade
No coração a certeza
Vive em paz a Natureza
No Monte da Piedade
Maria Isabel Galveias, 
Piedade 12 de Julho de 2007

NOITE NA PIEDADE


Está uma noite enluarada,
A Lua cheia e corada,
As trevas iluminou,
E confundindo os matizes
De verde e oiro pintou
Terra, árvores e raízes.
No azul do infinito,
Pelo céu esvoaçando
O Noitibó solta um grito.
O ar tem cheiro silvestre,
Ao longe o mar se adivinha,
Fininho, como uma linha,
Sob a abóbada celeste.
Ao fundo como a seus pés,
Há uma cidade distante,
Com luzes incandescentes,
Que a iluminam lés a lés.
Sinto-me flutuar,
Levada pela aragem
Que passa pela folhagem
E o meu rosto vem beijar.
Há magia neste instante,
Que a minha alma aquece
E tudo se desvanece,
Na paisagem luxuriante.
Vista daqui como é bela!
Como brilham as estrelas
Na imensidão dos céus,
Sinto-me desvanecida,
Deveras agradecida,
Por esta benção de Deus!!

Maria Isabel Galveias
Piedade 24 de Dezembro 2005



MORBIDEZ

Acordei hoje do meu sonho
Que era claro, belo e risonho,
Com cheiro de flores e maresia,
Sonhado pela minha fantasia.

Meus olhos abri suavemente,
Meu corpo, estava ainda dormente,
Minha alma continuava a sonhar,
Parecia Ter medo de acordar...

Olhei em meu redor, e só vi sombras
Pedaços de ilusões eram alfombras,
Pétalas de rosas murchas pelo chão,

Estava de luto e magoas vestida,
Tinham-me arrancado o corarão,
Que, agonizante, gemia a pedir vida.

Arroja, 9-7-2000
Maria Isabel Galveias

FLOR DA SOMBRA

Eu sou a violeta desprezada,
Mas que ás demais flores causo ciúme
Porque sendo esquecida, mal amada,
É superior ao delas meu perfume

Nasci discretamente nas valetas,
Mas sempre que o amor quer despertar,
Qualquer homem, p´ra uma mulher conquistar,
Oferece-lhe um raminho de violetas.

Sou pequenina, minha cor é triste,
Passo despercebida num jardim,
Porém de mim não sai um só queixume,

Flor de sombra sou, mas não me importa,
Foi Deus, que quis que fosse assim,
E por isso me deu este perfume

Maria Isabel Galveias
            Ramada, 26 de Fevereiro de 2000

GALÀXIA DO AMOR

Na galáxia do amor,
Meu planeta explodiu,
Houve gritos de terror,
Do amor se despediu.

Despedaçou-se no espaço,
Como luz incandescente,
Não restou nem um pedaço,
Daquele planeta ardente.

Só eu escapei com vida.
Estonteada, ferida,
Com aquele estrondo,  medonho

Ando pelo espaço á deriva,
Á procura de guarida,
P´ro que resta do meu sonho.


FILHA DA NOITE

Sou filha da noite escura,
Minha mãe nada me deu...
Tenho a cor fria da Lua,
Ando vestida de breu.

Sou uma estrela cadente,
E pouca gente já me viu,
Sou a única vivente,
Dum planeta que ruiu.

Hoje, habito na terra,
Onde pouca gente vê,
Tudo o que a minha alma encerra,
Consideram-me um E.T.

Assim, ando desligada,
Passo por cá alheada,
Do mundo que me rodeia.
Sou um E.T.? Pois serei.
O que aqui faço não sei,
Não tenho a menor ideia.

Arroja, 13  de Maio de 2000  Maria Isabel Galveias

PORQUÊ?
Por que não paras pra pensar em mim?
Por que me negas teu sorriso claro?
Por que não tomas o meu corpo, enfim,
Já que és o remédio com que sei que saro?

Saro de mágoas, dores e desejos
Quando tu entras neste meu deserto,
Neste meu corpo - um trópico de beijos
Que mais se aquece quando chegas perto.

Por que não vens e calas minha voz,
Colando a boca no que em vão persiste,
Para que eu sinta morto o meu algoz .

A  teimar, em me dizer que não existe
O que desejo do pronome nós
No linguajar esquálido do triste?

Maria Isabel Galveias
Arroja, 31de março de 1999
                          
                               RESSURREIÇÃO DA  FLORESTA

Reúnem-se os animais,
Todos, do mar, céu e terra,
E com vozes infernais,
Soltam um grito de guerra.
Diz o Mocho sabichão,
Escutem com atenção:
- Os homens formam orquestra
Onde há muita nota incauta,
E se a música não presta,
É por ser filha da pauta.
Andam todos a tocar,
Por ser tudo o que lhes resta,
Tocam, tocam, sem parar,
O seu mundo é uma orquestra.
Toca o pai e toca o filho,
O avô, o tio, a cunhada,
Música, sem tom e sem brilho,
Que orquestra desafinada!
Cantam fado, cantam pimba,
Tudo p´ra alegrar a malta,
Em melodia sem rima,
Onde há muita nota incauta.
Na floresta de cimento,
O som da música falta,
Dó, ré, mi, sem sentimento,
Por serem filhas da pauta.
Já não cantam os Chapins,
A alegrar a Floresta,
Cigarras, Pardais e afins,
Porque a música não presta.
O mundo está a morrer.
Já nada é como era,
A vida está-se a perder,
Já não ri, a Primavera.
As Árvores, já não florescem,
                                 Caem mortas pelo chão,
E nem as Papoilas crescem,
A anunciar o Verão!
Tudo parece perdido,
Esquecido, ao abandono,
Tão murcho e apodrecido,
Já não é douro o Outono.
Os animais, não podem ter
Lares, buracos, que inferno...
Sítios para se esconder
Pra atravessar o Inverno...!
Revoltam-se os animais
Reunidos na Floresta,
Os homens não tocam mais,
Façamos nós uma orquestra!!!
Voltem a cantar os Grilos,
Cigarras, venham cantar,
Venham todos aplaudi-los,
Que ninguém esteja a faltar.
Cantem as Rãs, pelos charcos,
Cantem Pardais, pelos prados
Com dós de peito, bem altos,
Que a todos deixem espantados.
Já a Toutinegra canta,
O Chapim, afina a garganta,
O Canário é o tenor,
O Estorninho é o tambor,
No trompete, o Grilo é lesto,
A Cotovia é contralto,
Eis que entra no palco,
O Rouxinol, que é maestro.
A música, é outra agora,
Melodia inovadora,
Soa por toda a Floresta...!
Dos homens nem um sinal,
Renasce a Terra afinal,
Com o som da nova orquestra.
E que música tão linda...
 Nem uma nota lhe falta,
Há paz e alegria infinda,
Que não são filhas da pauta...
E as Borboletas dançam,
Nos seus vestidos de festa,
E as Andorinhas voam,
Ao som dessa nova orquestra,
E que som, magnificente...
Tudo está feliz contente,
Ressuscitou a Floresta!!!

                                  Ramada  22 /5/0000


NOITE DE LUAR

Calma noite de Luar,
Anda a brisa a murmurar
Palavras de namorados.
Vai murmurando também
O som dos beijos que vêem,
De lábios apaixonados
É sempre a luz do luar
Que em nós faz despertar
Sentimentos amorosos;
Em noites de Lua cheia
Vem o amor e vagueia
Pelos montes silenciosos.
Há sempre trocas de beijos,
Ao som lânguido de harpejos,
Que nos dá o rouxinol;
É que o amor envergonhado
Não gosta de ser notado,
Nos claros dias de Sol.
Então quando a noite cai
O amor prá rua sai
Em busca de almas carentes,
 Dá-lhes ternura e afagos,
Carícias em gestos vagos,
Deixa-as felizes contentes.
Quando vem a luz da Aurora
O amor já saciado
De amar e ser amado
Diz adeus e vai embora.
Eu, fiquei aqui sozinha,
Ouvindo o murmúrio que vinha
Dos casais a namorar,
Esperando que viesses
Meu amor e que me desses,
Também, beijos ao luar.
 Esperei sob a luz da lua
Que tu me fizesses tua,
E foi grande a minha espera.
A Lua foi-se afastando
E o Sol foi despontando,
Morreu a minha quimera.
Se tu amor me esqueceste
Porque foi que não disseste
Vou para não mais voltar?
E eu não te esperaria
Sozinha de alma vazia
Nesta noite de luar.

Maria Isabel Galveias

SANTO ANTÓNIO E 0 AMOR

Santo António passeava,
Um dia na minha Rua
Encontrou minha alma nua
Transida de frio estava!",
Santo António a vestiu,
Ao ceder-me teu amor,
Sentindo então, teu calor,
Minha alma não resistiu.
De carmim vestida estou.
Que é a cor da alegria,
Mas perdi a fantasia,
Teu amor pouco durou...
Agora, não sinto frio,
Mas estou de negro vestida,
Perdi o interesse p'la vida,
Meu corarão está vazio...
Teu amor, era o demónio,
Que me veio atormentar,
Mas quero outro amor achar,
Vou pedir, a Santo António.
Com seu manto de burel,
Veio o santo me cobrir,
]a estou de novo, a rir,
Com o novo amor, que me deu...
Mas se este amor não durar,
Como não durou o teu,
Ao santo vou suplicar,
Que me leve para o céu!!!
Ramada, 12 de Janeiro, de 2000


O SONO DA ALMA

Meu quarto escureceu.
Caiu a noite, fria, medonha.
Enquanto o meu coração sonha,
A minha alma, cansada, adormeceu.
Ao vê-la assim dormir profundamente,
Meu coração, sobressaltado, espavorido,
Corre a bater à porta da razão,
Que tinha, também ela, adormecido.
- Acorda!! Grita meu coração.
- Que se passa? Pergunta a razão.
- Vem depressa, penso que a alma morreu!
- Tem calma, meu amigo,
Que nada aconteceu.
Não há nenhum perigo.
A alma, só adormeceu,
Deixa que durma sossegada,
Este sono profundo, reparador,
Porque ela andava tão cansada,
De sofrer, de ser espezinhada,
Triste, divorciada do amor...
- E nós? Que nos vai acontecer?
Como se fosse do amor a catedral,
No meu corpo, há um silêncio sepulcral.
Penso, que o melhor que há a fazer,
Diz baixinho, a razão ao coração,
É procurarmos também nós adormecer.
Então no meu corpo já dormente,
Dormem, a alma, a razão e o coração,
Calma, profunda e docemente

Maria Isabel Galveias
Ramada, 28 de Março de 2000







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