MEUS POEMAS



Maria Isabel Galveias, é meu nome de baptismo porém ao aceder á net ainda pela linha analógica, ao fazer o registo foi-me pedido um nick, então lembrei-me de como meu avô me chamava ás vezes, e escolhi este nome Lylybety.
E porque me chamava de Lylybety? Porque sendo um grande admirador da casa real inglesa, muito embora fosse republicano, soube não sei bem como, que era esse o diminutivo pelo qual o rei Jorge VI chamava á princesa Elizabeth, hoje rainha.
Sempre gostei muito de ler, e de escrever, assim sendo, um dia dei por mim a versejar, e a escrever contos. Sei que não o faço lá muito bem, mas como não espero ganhar nenhum prémio literário, faço-o apenas porque me dá prazer. Abri este blog, para nele guardar alguns dos meus escritos, muito embora saiba que ninguém os vai ler, e também sei que, um dia destes parto para a grande viagem, e o blog desaparece, mas enfim, como se costuma dizer, o que é de gosto regala a vida. 

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MEDO DE AMAR

Quão caro venda o amor um gesto seu,
Quão pouco tarde a pena, certa e justa,
Bem o sabe a minha alma e bem lhe custa
Que por amor, de si o melhor deu

Milagre foi decerto, escapar eu..
De mar tão furioso, em fraca fusta...
Erro seria agora e coisa injusta...
Acreditar no amor que me perdeu...

Pra que em seus braços outra vez caia,
Ora finge, ora roga, ora ameaça,
Usa de força e manha, tudo tenta....

Mas não me enganará, por mais que faça,
Pois quem escapou a nado até á praia...
Até em terra, tem medo da tormenta....!

Maria Isabel Galveias... 
Ramada, 9-01-002

TUDO É VÃO!!!

Horas do meu contentamento
Nunca me pareceu, quando vos tinha,
Que vos visse acabadas, tão asinha,
Em tão compridos dias de tormento...

Aquelas torres que fundei no vento,
O vento as levou, já que as sustinha.
Do mal que me ficou, a culpa é minha,
Que sobre coisas vãs, fiz fundamento.

Amor, com rosto ledo, e vista branda,
Promete, quanto dele se deseja;
Tudo possível faz, tudo assegura,

Mas, quando numa alma reina e manda,
Como na minha fez, quer que se veja,
Quão fugitivo é, quão pouco dura...

Maria Isabel Galveias   
Ramada-11-01-002

TROCADILHOS

Quem por amor não descansa, cansa;
Quem passa o mar rompendo a terra, erra;
Porque da terra se desenterra, terra,
Sem vã cobiça, que foi mansa, mansa;

Quem não quer mudança, dança;
Quem a nada se aferra, ferra;
Assim, tudo o que se desencerra, cerra,
Porque enfim, nada em balança, lança.

Quem andar neste pressuposto, posto,
Atente bem em que demanda anda,
Primeiro que lhe seja a vida, ida;

E se pretende Ter sem desgosto, gosto,
Cumpra com quem nunca desmanda, manda,
Porque á tal vida, é devida a vida.....

Maria Isabel Galveias   
Ramada, 03-03-002



MONTE DOS  MILAGRES

Verdes e baixos vales, alta serra,
Duras e solitárias penedias...
Águas correntes, frescas fontes frias...
Testemunhas da dor que em mim se encerra.

De suspiros o ar, de pranto a terra
Encho, vós o sabeis, silvas sombrias,
Onde chorando vou, noites e dias,
Suplicar, que passe o mal que a mim se aferra...

Se o vosso silêncio, assim, me ouve
Os tristes pensamentos, só ele sente,
Os meus ais, de dor e de saudade

Ah! Não te espantes que em ti renove,
Mágoas passadas e presentes,
Pois tudo o que há em ti, é Piedade....

Maria Isabel Galveias, 
Ramada, 22-1-002

SÓ, NO MONTE

A mais formosa Ninfa aqui se banha,
Vê em espelho cristalino, a formosura,
A lembrança, o amor e a brandura,
Aqui por estes motes me acompanha.

Caminho passo a passo, com tamanha
Saudade, em meu peito, triste, dura...
Que viva me parece vã pintura,
Ora alegre vista, ora estranha.

Meu doce imaginar, tanto se enleva
Nestas doces visões, que por decerto
Tenho, não me engana o meu desejo,

Sem alma fico, que assim o céu se eleva,
Tão longe, de quem via de tão perto...
E quando torno a mim, que só me vejo....!

Maria Isabel Galveias, Ramada, 22-01-002

AMOR ZANGADO

Que quer de mim o amor, que já não tenha?
Estes arrufos seus, não terão fim?
De mim, que por amor me desavim...
E assim cativa, o sigo, vá ou venha...

Ao fogo em que me queimo, junto lenha,
Choro na alma, quando meu olhar ri,
Se o amor isto não quer, que quer de mim?
Ah! Se quer matar-me, não se detenha...!

Aqui tem uma vida triste e breve...
Sujeita ao seu querer, e tão sujeita...!
Que tudo em suas mãos contem e deixa

Sobejando amor já, mas que aproveita?
Que só por me negar o que me deve,
De mim se agrava, e sem razão de queixa...

Maria Isabel Galveias.  
Ramada, 15 –01-002


DISTÂNCIA DE MIM

Não sei que sinto em mim, estou ausente,
Longe de mim em tão longa distância,
Numa imensidão, tão vasta e tão carente,
Da sede de viver, sinto a carência.

Ai de mim! que estou tão longe, tão distante...
A milhentas léguas do que preciso,
Numa vida de tão curta permanência,
Que permanentemente me rouba o teu sorriso.

Tão longe estou meu Deus! e, tão sozinha...
Olho pra trás, vejo na distância percorrida,
Pegadas de rumeira que descalça caminha,

Não encontrando a terra prometida,
Do leite e mel que me alimentaria a vida,
Se a vivesse a teu lado enternecida.

Maria Isabel Galveias
Poceirão, 2 de Junho de 2004

ANSIEDADE

Hoje não sei como nem sei porquê,
O meu coração ansioso está alerta,
Há qualquer coisa no ar que não se vê,
Mas a minha sensibilidade, desperta.

Que será que me vai acontecer?
Em sobressalto estou, e ansiosa,
Tremem-me as mãos, estou nervosa...
Angustiada, mesmo, sem o parecer.

Indiferente a tudo, sinto-me apagada,
Não me apetece fazer nada...
Só fechar os olhos, e deixar de ver...

Queria ficar sozinha, no escuro,
Não pensar, não falar, não ouvir barulho,
Pura e simplesmente, adormecer...


LÁGRIMAS

Porque choram os meus olhos?
Porque geme a minha alma?
Agora, já não há escolhos...
Navego num mar de calma...

Se estou só, e mal amada?!!,
É culpa minha, olha agora!!!
Se a um, a vida foi roubada?...
Ao outro, mandei-o embora!...

Mas não controlo o pranto,
Que em meus olhos vem jorrar,
Sem avizar quando, nem quanto...

Muitas vezes sem aviso,
Vem lágrimas ensombrar,
A luz clara dum sorriso!...

Maria Isabel Galveias
Arroja, 15 de Agosto de l999


DESATINADAMENTE

Caem gotas, de chuva, na vidraça,
Fazendo arabescos e desenhos,
Dum rendado, entrelaçado, veneziano,
Ou cordão grosso, com que me amordaça

Desatinadamente, eu me confino
A este amor ardente, em desatino,
Chorando toda a noite, em desalento,
A tua ausência, que é o meu tormento.

Ah! Se tu viesses... Trazido pela chuva,
E contra ti, me apertasses, meigamente,
E beijasses minha boca, doce e muda...!

Cálida de amor puro e anelante,
Num frémito arrebatado e desnuda,
Na entrega do meu ser, desatinadamente!

Arroja, 4 de Maio de 2003
Maria Isabel Galveias


CANSAÇO

Minh'alma de sonhar-te anda cansada
Morrendo espavorida no meu peito
Toldou-se-lhe a razão já não é nada
Jaz morta apodrecida no seu leito

Meu coração á deriva sem ter norte
Movendo céu e terra em vão pleito
Não quer acreditar naquela morte
Nem ver seu sonho lindo assim desfeito

Nas frias madrugadas acordado
Reage prontamente á chamada
Só de ouvir pronunciar o teu nome

Logo fica mais triste e magoado
Ao ver que a ilusão está enganada
Chorando a triste sorte que o consome

Maria Isabel Galveias

COMO CAIM

Colheste flor duma capela virgem,
Flora que te dava, com profundo amor;
Talvez sentindo, da vitória a vertigem,.
Não entendeste, nunca o seu valor.

Quantas vezes a meus pés curvado,
Dizias ter por mim um grande amor
E eu pensando, que era verdade;
Não via o brilho, desse olhar traidor.

Minha capela virgem,...tinha flores,
Minha alma, era alva, como o Luar
Como era pura, acreditou no amor,

Que juravas para sempre durar,
Acreditei que gostavas de mim
Não vi em ti, a marca de Caim.

Arroja, 1-10-2000
Maria Isabel Galveias

DESENTENDIMENTO

Meu coração tinha tudo para ser feliz.
Contrariadora minha alma não quiz,
E fez chorar de dor meu coração.
Minha razão, pergunta então aos dois:

Porque não se entendem duma vez?
Porque puxa cada um para seu lado?
Porque não ficas coração calado?
E tu alma, pensa com alguma lucidez.

Aprende coração a ser feliz
Bebe a vida por um copo de cristal
Nâo dês ouvidos á alma que perdida,

Caminhando  por aí enegrecida
Tentando tudo p´ra te fazer mal....
Falando á toa por não saber o que diz

Maria Isabel Galvias

ENTÃO....AH!!! ENTÃO....

Então não culparei meus cruéis fados,
Dos agravos que me fizeram á porfia,
Trazendo contentamento á fantasia,
Ás imagens do meu mal, novo cuidado.

Então males presentes e passados,
E os que estão por vir, que bom seria....!
Se viessem já todos, algum dia,
Deixareis de chorar, olhos cansados...

Então não perturbareis o ar sereno,
Suspiros que saís do peito ardente,
Dando claro sinal do meu tormento...

Então, penando enfim fico contente,
Como uma borboleta ao Sol pleno,
Voando com o amor em deslumbramento.

II

Meu pobre coração em desventura,
Num desejar alguém que o enjeita
Da sua condição que não respeita,
O seu tão puro amor, a fé tão pura.

Em laços de piedade e de brandura
Inimiga, faz com que suspeite,
Que alguma brava fera te deu leite.
Ou que nasceste duma pedra dura.

Ando buscando causa que desculpe,
Crueza tão estranha, porém quando
Nisso penso, mais mal me trata.

Adivinha, que não há quem não nos culpe,
A ti, que matas quem te quer tanto,
A mim que tanto quero a quem me mata

Maria Isabel Galveias Ramada, 19-1-002

DITOSOS OS POETAS

Almas, em quem este fogo mora,
Que pensamentos altos vai criando,
Verdadeiramente os baixos desprezando
Da vossa criação, o céu já se enamora

Crescem dia a dia, hora a hora,
O vosso doce fogo, casto e brando,
Que faz inveja aos dois, o tempo andando,
Por quem a tosca lira, canta e chora

Ditosa tu, que dás à doce cena,
A castidade e a beleza rara,
Matéria nunca vista em nossos dias.

Ditoso quem contente por ti pena,
Pois arde em chama tão suave e clara,
Que do Árctico não teme as águas frias


ÁGUAS PASSADA

Ainda agora, outra vez, duros penedos,
Ouvireis o som triste dos meus ais....
E vós águas do ribeiro que passais,
E a quem já confessei tantos segredos.

Quantas saudades, quantos medos,
Quantas angústias que são o que dói mais
Me fazem parecer, se vos lembrais
Aqueles tempos tristes e tão ledos...

Triste de noite aqui, triste de dia,
Do grande mal da ausência me queixava
Julgando que outro maior, ser não podia;

Agora vejo quanto me enganava...!
Porque aquele não foi mal mas profecia
Deste que, aqui, e agora, me esperava...

Maria Isabel Galveias, Ramada, 23 1-002

AVESSO

As pedras voarão da base ao pico,
As aves rolarão, no solo, em esteiro
Deixará o cordeiro seu fato rico
E parecerá um lobo sem receio...

O fogo será frio, e ardente o gelo
A escuridão clara, escuro o lume,
O monte será vale e o vale cume,
E o centro da terra será céu,

O mar não tomará água do ribeiro.
Será manso o leão, e o cervo, fero
Amargo o prazer, doce o tormento...

E tudo enfim se mudará primeiro,
Que sem te ver, os tristes olhos meus,
Vejam em coisa alguma, contentamento...

Maria Isabel Galveias   Ramada, 23-1-002

ÁS DEUSAS DO MEU TEJO

No Tejo, em cujas águas novamente
As Ninfas e as Tágides suspiraram.
Tanto a sua luz já nos mostraram,
Em ti um novo Sol resplandecente...

Por ti cantando vão tão altamente
Que os povos do mundo se espantam,
Vendo as gaivotas e garças que esvoaçam,
Tocando as águas que deslizam docemente...

Oh! Meu lindo Tejo, quem em ti lê,
Como eu leio, a saudade que no mar morre...
E esta cidade que tu louvas em ti crê,

Ao ver que, quanto mais sobe mais se anima,
Darei por seca a veia, tosca a rima,
Se com algum favor o céu, não me socorre...!

Maria Isabel Galveias,  Ramada, 23-1-002

OLHOS DO MEU AMOR

Nesse formosos olhos, que, tão caro,
Me fazem custar a vista, sempre, neles
Quando meu amor, eu verei neles
Algum sinal de amor, escuro ou claro?

Não vêm eles nos meus o fogo claro,
Aquele fogo que, do peito sai por eles...
Do mesmo fogo, não vêm sair aqueles
Suspiros tristes, prova de amor raro?

Se só num volver d’olhos tenho a vida...
Que te custa amor, em socorrer-me
Volvendo-os para mim para que viva?

É que te custa menos ver perder-me?
Logo, em meu triste olhar já se define
Esta aura leve de morte, não temida....

Maria Isabel Galveias, Ramada, 22-1-002

MARGENS DO TEJO

Quisera eu, ver as claras e  formosas,
Águas do meu Tejo irem chorando,
As lembranças do tempo que cantando,
Passeava em suas margens frondosas...!

Eu via os brancos lírios e as rosas
Vermelhas pelas margens despontando...
A terra docemente ia chamando,
Com a voz enamorada e caprichosa.

Vi secos os ceifeiros, que já tantas
Queixas te ouviam, vi o dia,
Escuro, a relva triste, em toda a parte,

Se nas águas, no Sol, flores e plantas,
Ficou tanta saudade, quem diria?
Foi porque de mim, te levei a maior parte!

Maria Isabel Galveias, Ramada 23-1-002


MONTE DO MEU SONHO

Todos nós devemos ter um sonho,
E termos um lugar para o sonhar.
Porém  para eu sonhar meu sonho,
Só poderia ser neste lugar.

Aqui, onde o céu é uma enorme safira,
E nele voa dançando uma Valquíria,
Quando o Sol brilhando é mais rosado
Só aqui, meu sonho é alcançado

Borboletas azuis, voam no espaço,
O  Sol fica aquecendo, o meu regaço,
Aqui, toda a minha alma se expande.

Vejo a doçura duma face etérea,
Meu Anjo da Guarda, feito matéria,
Numa aura de oiro que resplende

Maria Isabel Galveias
Piedade,1-10-2000

MONTE DIVINO

Parece que nasceste, monte divino
Para seres o farol, a luz das puras almas!...
Que ao estridor, ao frémito das palmas
Exaltas-te feliz no luar cristalino!...

Parece nas pálidas, angélica boninas
Campanas  dos Tarsos e dos Talmas,
Quando no relvado em turbas sempre calmas
Transmudas em vulcão, e em raio fulminas!...

E quando majestoso, em lance sublimado
Dardejas o sol, olímpico, sagrado
Mil chispas ideais límpidas, ardentes!...

Sente-se  então n'alma  tremulo nervoso
Que deve ter o mar, fantástico, espumoso
Em  grossos vagalhões, indómitos, fermentes!!...

Piedade, 22-10-2000
Maria Isabel Galveias

MONTE QUE ME ESCUTAS

Minha alma de sonhar-te esta cansada,
Meus olhes estão vermelhos de chorar
Pareço neste monte alma penada,
Que anda passeando ao luar.

Meu coração sem sonhos, moribundo,
Quase que em meu peito já  não bate.
Anda a querer desligar-se deste mundo
Com o receio que tem de encontrar-te.

Meu corpo sem sentidos despertados
A mente entupida de incertezas,
Carente de ternura e quente abraço,

Anda por este monte, sem cansaço,
Que acalma em mim fracassos e tristeza,
Dos meus sonhos, todos despedaçados.

Piedade, 11-9-00
Maria Isabel Galveias

MONTE DAS MINHAS MÁGUAS

Cá neste lugar que me e tão querido
Pla  Natureza, todo verde vestido
Onde o vento ondulando faz ruído
Grito por alguém que me há esquecido.

Aqui tenho chorado muitas horas.
Tristes, dolorosas, más e solitárias
Produzidas pela dor que em mim mora,
Como se fora eu, da dor um relicário

Aqui estou com tristes pensamentos,
De sonhos mortos vãos contentamentos,
Ferida de morte, toda em carne viva.

Ao opróbrio o meu eu acorrentado.
Caminho com a dor de braço dado,
Espalho minha alma em pedaços repartida.
Piedade 11-9-00
Maria Isabel Galveias

MONTE DAS LÁGRIMAS

Neste monte onde eu venho divagar,
Oiço  silencio mágico do luar
E o sussurro manso dos pinheiros
A quem eu confesso os meus anseios.

O luar em silencio luminoso
Ouve-me com o carinho de quem sente
Que meu pobre coração tão desgostoso
Não pode confiar em quem lhe mente

Só a estes pinheirais e que me atrevo
A confessar minha alma atribulada,
Encontrando em seu silencio e claridade

A sã e pura amizade tão sonhada
Que entre os meus iguais eu não conheço
Por não haver entre eles lealdade

Piedade, 11-9-00
Maria Isabel Galveias

CRUZEIRO DO MONTE

Cruzeiro que estás no monte,
Traduzindo amor, fraternidade
E tens perto de ti,  mesmo de fronte
A  capela da Virgem da Piedade...

Cruzeiro vem de ti quando te vejo,
De braços para todos estendidos,
Uma fragrância, um vislumbre,lampejo,
Que vem acordar-me os sentidos.

Dum amor violento impiedoso,
Que no meu peito nem deixou saudade,
Por ser impuro, falso, mentiroso....

Feito de injúria desprezo e torpeza,
Faltando com perjúrio e falsidade,
As  juras que me fez junto á Igreja.....

Maria Isabel Galveias


DANÇANDO AO LUAR

Ah! Que estonteante esta dança...!
Dançada á luz clara do luar,
Numa valsa imaginada que não cansa,
Parecemos borboletas a bailar

Dancemos todas de roda ai amigas...
Aprendi este poema em criança...
Dancemos nós amor, agora esta dança,
Até eu ficar exausta, adormecida..

Na ternura e no calor do teu abraço.
Na ventura do teu amor esmaecida
Cansada de doidamente dançar

E quando de manhã eu acordar,
Na ventura do teu amor esmaecida
 Cansada de doidamente dançar

Maria Isabel Galveias

SEMENTEIRAS

Vindo Deus a passear
Pelo campo infinito,
Resolve flores semear
Para o tornar mais bonito.
Semeou por entre o trigo,
Papoilas, lírios e nardos.
E vendo os campos floridos,
Gostou daquilo que fez,
Tornando-os mais coloridos.
Mas vindo o Diabo atrás,
Semeou urtigas, cardos,
Joios, tojos  e bugalhos,
Em toda a sua fealdade
E foi assim que a maldade,
Triunfou, mais uma vez.
E Deus deixou ao Diabo,
Toda a autonomia,
Mostrou que o mal que fazia
Não lhe causava azedume,
Pois essas ervas ruins,
Tinham valia, por fim,
Para acender o lume,
Que aquecia os enjeitados
As crianças e os velhinhos.
Ficou o Diabo irado,
Ao ver que Deus de bondade,
Transformou em coisas úteis,
O que ele julgava fúteis.

Ramada, 20 de Abril de 2000  
Maria Isabel Galveias

CIDADES

Sentada no monte, da Ramada,
Vejo ao longe Lisboa, deitada,
No alto da colina,
Ainda envolta p´la neblina,
Que pouco a pouco, vai desaparecendo
Sob o Sol doirado, que desponta
É linda esta cidade.
Cheia de Sol, de alacridade,
Coração aberto, a quem cá vem.
No frenesim de mais um dia,
Vejo a minha Lisboa, que sorria,
Com a ternura de um coração de mãe.
Cidade maravilha, com tantas coisas belas
Contempla, a mais nova das filha. 
a muito bonita, cidade de Odivelas.
Recém nascida,
Porque o povo assim o quis.
Quem lhe deu vida?
Foi o Sr. rei D.Dinis!
Rei trovador, rei poeta, lisonjeiro,
Que outrora, a esta terra deu amor,
E descansa agora em seu mosteiro.
Mosteiro, que p´ra nós,
é um artigo de museu.
Pequenino, mas a sua graça é tanta,
No meio dum terreiro todo seu.
Onde predomina, a estátua da Rainha Santa
Que perguntou um dia ao seu senhor,
Com um sorriso, cheio de amor,
Ides vê-las?
Talvez soubesse... Saberia?
Que desta frase Odivelas nasceria?
Vejo tudo isto, aqui, do alto da Ramada.
Não resisto a descreve-lo deleitada,
Num sentimento, doce,
Que minha alma constrange
É assim, que eu vejo coisas belas,
Lá ao fundo, fica Odivelas,
Rodeada p´la beleza que a abrange!
 Maria Isabel Galveias

CASTIGO
A minha alma,
A minha dor em penitência,
Ás portas do céu
Apelam por clemência.
Então um anjo veio
E disse assim
Porque choras,
O que queres tu de mim
Tudo o que havia de bom
Te dei um dia,
E tudo deste a quem não o merecia.
Esqueceste de guardar
Umas migalhas
Migalhas de ternura de carinho
Que te alimentassem no caminho
Da vida, que seguiste com amor,
E não viveste,
Tudo te dei em grande quantidade
E tu pelos outros esbanjaste
E ninguém te deu nada,
Quando nada tiveste.
Agora, fica aí.
Chora grita!
É esse o teu castigo.
Nada guardaste?
Nada tens contigo.
Nesse momento,
Apareceu Nossa Senhora,
Que pergunta
Porque castigas a minha filha?
Ela deu tudo, porque era sonhadora,
E a quem sonha,
Nunca se castiga.
Maria Isabel Galveias

ESPELHO!!!

Olho no espelho do tempo
Procurando minha imagem
Vejo um arremedo de mim:
Algo desfocado, borrado, fragmentado,
Em tantos cacos espalhados,
Daquilo que um dia fui...assim
Alguém que cantava e se alegrava,
Sonhava em ser feliz,
Fantasiava uma vida de esperanças,
Pois ao passar a dor viria a bonança!
E o "amor" preencheria a vida,
Trazendo sentido e beleza,
Varrendo a tristeza da alma,
Pleno de ternura e calma!
Mas passa o tempo sem dó, nem piedade,
Aumentando a agonia das horas vazias...
Perdi a voz para o cantar... e a alegria...
Não vi mais sentido nem esperança,
O amor foi sufocado na chegada.
Desistir do sonho, matou o pouco, ou nada,
E o que restou?... Esse arremedo de mim!
Reflectida no espelho do tempo, nada! Triste fim.....
 Maria Isabel Galveias
Arroja, 2 de Outubro de 1999

SEM MAIS NEM MENOS

No mar da vida em que vogamos,
À deriva, conduzimos nossa nau.
E se houve coisas, que fizemos
Mais ou menos,
Outras houve que fizemos,
Menos mal.

Amei, e fui amada,
Mais ou menos.
E se do amor, recebi o sinal,
Amei demasiado,
Ambos sabemos.
Mas tu não amaste,
Bem nem mal.

No fogo da paixão,
Ambos ardemos.
Mas tu não entregaste o coração.
Amaste, mais ou menos, informal.
Eu, entreguei-me toda em unção,
E assim, te fui amando,
Menos mal.

E nesta confusão em que vivemos,
No turbilhão deste enorme vendaval,
Se  eu fui castigada,
Mais ou menos,
Também fui premiada,
Menos mal.

Quando nos separámos...
Se chorámos,
Se nos rebelámos contra a sorte.
Se sem mais nem menos
Desejámos a morte,
Sem ver que isso,
Era um pecado capital;
A vida foi-nos dando
Mais juízo,
E hoje vamos vivendo,
Menos mal!...
Maria Isabel Galveias
Ramada, 11 de Fevereiro, de 2000

TITÃS

Se me queres desafiar,
Comigo podes contar,
Podes começar a luta.
Usa as armas que quiseres
Pois faças o que fizeres
Vou ganhar esta disputa

Já estou habituada
Portanto estou bem armada,
Sinto-me calma e serena.
Com os pés firmes no chão
Espero a provocação
Aqui, no centro da arena

E cá no meu planeta
Estou montada num cometa
Disfarçada em seu fumo
É que está escrito nos céus
Se tu és filho de Zeus,
Também sou filha da Juno

o teu pai e minha mãe
Nesta guerra vão também
Ter a sua quota-parte
Por isso tem cuidadinho
Porque tenho por padrinho
O grande guerreiro que é Marte

Nesta guerra vais entrar
Na certeza de a ganhar
Com força destruidora.
A mim não ma dá cuidado
Porque tenho do meu lado
Diana, a caçadora

Plutão vai a comandar
Saturno vai arbitrar
E não haverá martírios
Eu sei que me vais tentar
E me vais querer ofuscar
Com a tua estrela Siriús

De Vénus tenho estrutura
A luz clara e a doçura,
E da Terra um grande plano
Como terráqueos lutamos
Sabendo ambos que temos
Todo o calor de Vulcano

E quando em mar revolto
Tentarmos dar rédea solta
À nossa agressividade
Preocupar-me não vou
Pois Neptuno meu avô
Vai impor tranquilidade

E quando em arroubos feros,
Dizes que te feriu Eros,
Embora eu não acredite,
Será bom que seja assim,
Porque eu transporto em mim
Todo o fogo de Afrodite

Se mesmo assim queres prosseguir
para poderes usufruir
Tudo o que o Olimpo te deu,
Não te deixes enganar
Nem te deixes arrastar
P 'las artimanhas de Orfeu

Não vou sentir emoção
E vou por o coração
Ao largo, em calmas águas.
Vou á luta com frieza
E vou lutar com firmeza
Sem sentir rancor ou mágoas

Eu posso compreender
Que lutes pra defender
Os teu sonhos e anseios
Nada tenho a contrapor
Porque nas lutas de amor
São válidos todos os meios

Nesta luta vou usar
Todas as armas que achar
Cada qual p' rós seus motivos
E quando a guerra acabar
Ambos estamos a ganhar
Ou estamos ambos vencidos

Espero que não vão restar
Feridas para sarar
Do teu lado nem do meu
Destruídos todos os grilos
Vamos descansar tranquilos

No doce lar de Morfeu
Maria Isabel Galveias
AI SOLIDÃO SEM DESCANSO

Tu que contas velhas lendas
Nas harpas da tempestade,
Viajas na Imensidade,
Caminhas todas as sendas.
Tu que sabes mil segredos,
Mistérios negros, atrozes
E formas as dúbias vozes
Dos sotumos arvoredos.
Que tornas  mar sanhudo,
Implacável, formidando,
As brutas trompas soprando
Sob um céu trevoso e mudo.
Que penetras velhas portas,
Atravessando por frinchas...
E sopras, zargunchas, guinchas
Nas ermas aldeias mortas.
Que ao luar, pelos engenhos,
Nos miseráveis casebres
Espalhas frios e febres
Com teus aspectos ferrenhos.
Que soluças nos zimbórios
as teus felinos queixumes,
Uivando nos altos cumes
Dos montes verdes e flóreos.
Que te desprendes no espaço
Perdido no estranho rumo
Por entre visões de fumo,
Das estrelas no regaço.
Que de Requiens e surdinas
E de hieróglifos secretos
Enches os lagos quietos
Revestidos de neblinas.
Que ruges, brames, trovejas
O velho vândalo amargo,
No sonâmbulo letargo
De um mocho rondando igrejas,
Que falas também baixinho
La da origem do mistério,
Trazendo o augúrio sidéreo
E certa voz de carinho...
Tu que trocas o destino
Do ribeiro a que me lanço
Estás sempre no meu caminho
Ai solidão sem descanso
Maria Isabel Galveias

ENTRE AS COISAS E MIM HAVIA VIZINHANÇA

Entre as coisas e mim havia vizinhança 
De tudo o que vivi, não havia mudança 
Era tudo igual, no passado sem futuro
Como quem colhe um fruto.. já maduro 
Havia a vizinhança do canavial
As rãs que coaxavam, noite fora
O rio que corria em seu caudal
Um cântico mavioso a toda a hora
Entre as coisas e mim havia vizinhança 
Daqueles olhos negros, cheios de esperança 
Dum menino também negro e risonho
Que mastigava cana, como em sonho
A mamana, em seu gingar quando pilava
Os bagos da mapira, em seu balanço 
Amamentando o filho, calmo, manso.... 
Entre as coisas e mim, havia o grito
Da cegonha que voava, ou apito
Do comboio ronceiro que passava
Entre as coisas e mim havia vizinhança
Que se esfumou no tempo sem esperança
De que entre eu e elas volte a haver
O perfume da terra que ao chover
Nos embriagava, aquecia a vontade.... 
Entre as coisas e mim, só há saudade

Arroja, 28-10-2005
Maria Isabel Galveias

FINADO

O amor morreu?
Paz para ele que vá pró céu!
O carinho desapareceu.
A ternura acabou.
O interesse fugiu.
A esperança ruíu,
A saudade ficou.
A lembrança esfumou-se,
Fez a cama deitou-se
Tudo fez pra dormir
O sono sonhou,
O cérebro pensou,
Nada posso sentir.
O sonho acordou,
A alma chorou escura como breu
Meu corpo abraçou
E tentou consolar
Mas nada aconteceu,
Porque o amor morreu!
Está no céu?
Deixa-o estar

Maria Isabel Galveias

JARDIM PERDIDO

Ai do meu lindo jardim,
De rosas nardos e heras,
Ai, meu jardim encantado,
Onde passeava ao lado
De ilusões e quimeras.
Ai, meu jardim florido,
Ficou todo destruído,
Esmagado sem piedade,
Com frieza e maldade,
Pelo tempo corroído.
Ai, jardim da minha infância,
De onde eu fui arrancada,
Com a erva comparada,
Sem de mim terem clemência.
Ai, meu jardim de ilusão,
Plantado em meu coração
E que julgava só meu.
Ai, jardim de alacridade,
Puseram lá a saudade,
Que tudo enegreceu.
Ai, jardim! Ai, meu jardim!
Pisado, esmagado, enfim...
Por uma alma feroz,
Arrancado do meu sonho,
Por um vendaval medonho,
Duma crueldade atroz...
Ai jardim, lindo jardim!
Ai a fonte dos amores,
Ai a morte das quimeras,
Ai a pérgula de prazeres,
Está tudo coberto de ervas...!

Maria Isabel Galveias

MALMEQUER
Malmequer, bem-me-quer, muito, pouco, nada.
Assim sou pelos amantes desfolhada,
Na ânsia de saber-se amado ou amada.
Sou somente uma singela flor,
Discreta, pequenina, sem perfume...
Se bem me quer, há expressão de amor...
Se malmequer, há raiva e ciúme.
Numa casa alegre, comezinha,
Não tenho honras de sala,
Para essa há a imponente rosa,
Eu fico na mesa da cozinha,
Perto da cozinheira buliçosa.
Sou branco de cor, meu coração é amarelo,
Porem com o meu todo bem singelo,
Manifesto-me assim para o amor.
Num campo verdejante, entre papoilas,
E de parceria com o trigo,
Enfeito as cabeças das moçoilas,
Que o ceifam, e assim brincam comigo.
Mas no meu destino a minha sorte,
É ser sempre por elas desfolhado,
Sou infeliz com tão dura morte, Malmequer,
Bem-me-quer, muito, pouco, ou nada
Contudo, diga eu, o que disser,
Serei, eternamente, Malmequer.


Maria Isabel Galveias


CRUZEIRO DO MONTE

Cruzeiro que estas no monte,
Traduzindo amor, fraternidade
E tens perto de ti, mesmo de fronte
A capela da Virgem da Piedade...

Cruzeiro vem de ti quando te vejo,
De braços para todos estendidos,
Uma fragrância, um vislumbre, um lampejo,
Que vem acordar-me os sentidos.

Dum amor violento impiedoso,
Que no meu peito nem deixou saudade,
Por ser impuro, falso, mentiroso....

Feito de injuria desprezo e torpeza,
Faltando com perjúrio e falsidade,
As juras que me fez junto a Igreja.....

Piedade, 1-10-1999
Maria Isabel Galveias

COMO ENVELHECI...!?
Envelheci. A cal da sepultura
Caiu por sobre a minha mocidade...
E eu que julgava em minha ingenuidade
Ver ainda toda a geração futura!

Eu que julgava! Pois não é verdade?!
Hoje estou velha. Olha essa neve pura!
- Foi saudade? Foi dor? - Foi tanta agrura
Que eu nem sei se foi dor ou foi saudade!

Sei que durante toda a travessia
Da minha vivência trágica, vivia,
Assim como uma casa abandonada.

Sessenta e nove anos sessenta e nove horas...
Sei que na infância nunca tive auroras,
E fora disto, eu já nem sei mais nada!
Arroja, 24-12-2005
Maria Isabel Galveias
POENTE

Desaparece o Sol no entardecer,
Brilhando, a cor rosada, em seu poente,
A minha alma, ajoelhada e crente,
Roga a Deus, o fim do seu sofrer.

Como é belo  Sol a fenecer...
Vem já ai, Luar todo prateado,
Trazendo a paz e o meu corpo adormecer,
Num sono, tranquilo e repousado...

Mas não consigo, por mais que o tente,
Cerrar meus olhos, querer adormecer,
Dores e tristezas vêem a minha mente,

Ansiedade, angustiante de não saber,
Porque te ausentaste, assim, tão de repente
Mais ledo, do que o Sol, a se esconder.

Arroja, 29-9-2000,
Maria Isabel Galveias
AQUI...........

Aqui, onde me vez, estou presente.
Pronta, para o que der e vier.
Vestida da coragem que não mente,
Porque de corpo inteiro sou mulher!

Aqui, onde me vez, pertenço á seita,
Á raça das que lutam, sem chorar.
Capaz de dar a vida, e não aceita,
Viver, sem conjugar, o verbo amar!

Aqui, onde me vez, eu sou capaz,
De perdoar-te tudo, sem rancor.
Entender, a torpeza que em ti faz

Com que não conheças, o amor.
Aqui onde me vez, sou quem te diz,
Que sã, de corpo e alma, sou feliz!

Maria Isabel  Galveias
Arroja, 20 de Abril de 2000

PESADELO

Tenho a ciência o ideal de transformar
Vagas imagens doces sensações
Numa loucura etérea, etéreo doidejar
Em telas imaginárias pinto estranhas visões

Só eu vejo o estranho, o anormal, o medo
Tenho a trágica visão do que é triste e frio
Um espectro terrível que nunca ninguém viu
Sombra do mal que passa entre o arvoredo

Sou de alma penada o segredo de origem
Sou o caos o temor, a luz sombria
Que corre loucamente pra cair no abismo

Sou a tormenta o terramoto o cataclismo
Vivo a desesperar o seio da virgem
E só apagar tudo ao nascer do dia

Setúbal, 30 de Junho de 2005
Maria Isabel Galveias

NOSTALGIA

Olho como um livro amarelado
Que em cem anos talvez ninguém abriu
Toda a magoa a tristeza do passado
Como fora um mosteiro escuro e frio.

É um passado velho enclausurado,
Qual erudito frade austero e pio,
Deixou o meu espirito sombrio
Fechado num in-fólio saturado.

Assim perante o livro macilento,
Uma vaga tristeza de convento
Um odor a mofo fétido se exala...

A minha alma abolida aí desperta
E vejo ante mim - visão incerta
De ancestral nostalgia que me fala.

Arroja, 24 de Agosto de 2005

Maria Isabel Galveias


NO INVERNO DA VIDA

Não vou brincar ou dançar jamais,....agora
 Que me vão chegando os tempos invernosos,
 Esse  que traz  receios tímidos, nervosos,
De quem vê fazer-se noite, sendo aurora.

Vãos sonhos de cristal, translúcidos, antigos
Se vão perdendo à vinda dos Invernos,
fugindo  em debandada os húmidos galernos
Lembrando um roto bando informe de mendigos.

Rouxinol que triste canta na gaiola,
Parece, com o olhar, pedir a pobre esmola
De um riso, ou flor que cai na neve, branca e fria.

Em tudo se define, angústias aflições!
Na fria atmosfera num caos d´interjeições!
Em tudo uma mortalha, em tudo uma agonia.
Arroja, 12-9-2005
Maria Isabel Galveias

MUDANÇAS
O sol é quente, voam calmas aves
Nesta manhã, que deveria ser fria
Se a chuva caísse, acordar-me ia
Não de pesadelos, mas de sonhos leves

Vai passando o tempo, dia após dia
Já não gela o Inverno, como antes fazia
Mudando-se os tempos, mudam-se as  vontades
Muitos temporais, poucas tempestades

Vejo agora no Verão, laranjas maduras
Oiço poucas aves, a cantar amores
Há hoje gravetos onde haviam flores

Tudo é árido, seco e frio á mistura
Já não há renovo, é um mal sem cura
Até eu mudei, fiz-me doutras cores

Arroja, 30-8-2005
Maria Isabel Galveias

AS LÁGRIMAS DE PIERROT

Oiço o canto dos passarinhos a trinar
Vejo no céu azul, estrelas pequeninas
que se apagam com a luz clara do luar
envergonhadas da traição das columbinas

O rouxinol toda a noite pipilou
Com voz dorida, alma negra de paixão
Lágrimas caem pelo rosto de Pierrô
Que entregou a Columbina o coração

Vem uma nuvem que escureceu a lua
Vê-se de novo as estrelas a brilhar
Vejo um sombra envolta em seda pura

Que com diáfano lenço enxugou
E prometeu que não mais iam chorar
Os olhos amorosos de Pierrô

Arroja, 24 de Dezembro de 2000
Maria Isabel Galveias

FANTASMAS

o meu amor por ti, jaz morto e frio.
Para seus males porém, não colhe alivio.
Fantasmas que velando, o espavoriram,
Perfídia, após perfídia, o denegriram.

Viu-se indigente e só, desamparado,
o matutino humor, de lágrimas temperado,
Primeiro, o coração, lhe grita injurias,
E vê que a razão, doideja em fúrias.

Já do mar, já da terra, os céus atroam,
Tempestades que gritam 0 teu nome,
Vê que o tempo que lhe foi dado já se some,

Sinistros, devorantes  pensamentos,
Sem sentir de ti, nem a leve esperança,
Que o raio, da manhã, primeiro alcança.

Arroja, 22-9-2000
Maria Isabel Galveias

DESPIDA

O destino vestiu-me de paciência,
Pôs-me o véu diáfano da saudade,
Calçou-me meias de consciência,
Sapatos, de compreensão e lealdade.

Deu-me uma capa rubra de paixão,
Guarda chuva, de alegria e alvoroço,
Pôs-me luvas de amor no coração,
E, um lenço de ternura no pescoço.

Vestida deste modo fui prá rua,
Enfrentei, guerras, dores inclemências,
Ventos chuvas trovões e tempestades,

Desenganos, desamor e desistências
E quando dei por mim, estava nua...
Despida de preconceitos e vaidades.......

Ramada, 23-10-1999
Maria Isabel Galveias

DESILUSÕES

Dentro do coração, no côncavo do peito
Choro a grande ilusão de amor, desfalecida,
Dentre o gozo feliz, nostálgico da vida;
Já exangue, afinal, já morto, já desfeito.

Por visões que adorei num vago tempo incerto
Não sei por que razão avivo agora as magoas,
Num pranto doloroso e triste, como as aguas
Do mar grosso a bater sobre  cosmo deserto.

Tu, ó doce visão da idade das tranças,
Todo  meu puro e terno sentimento invades
E eu não sei o que fiz das minhas esperanças

Que de longe que vão parecem sem alarde
Tudo que houve em meu ser de compaixão e crença
Para sempre secou, como um rio de saudade

Maria Isabel Galveias
Arroja, 19-10-2005

CORES DA NATUREZA

De verde, oiro, cinza e azul cobalto,
Se enfeita este monte tão bonito,
A natureza vive em paz sem sobressalto,
Mesmo quando aqui, oro, choro ou grito.

Verdes pinheiros, apontando  céu
Sol de oiro, lindo ,em seu poente,
Cinzentas nuvens de cinzento véu,
Azul dos sonhos que o meu coração sente.

Foram de cristal, minhas puras lágrimas,
De azul cobalto foram minhas dores,
Do negro mais escuro foram minhas magoas,

Vestida de verde, esperançosa, sem rancores
Está hoje minha alma que aqui vem e reza
E brilha, no oiro puro da Natureza

Piedade, 31 de Agosto de 2000
Maria Isabel Galveias

COMO SE FOSSE....

Como se fosse noite e me atirasses
Em silencio pétalas de rosas,
E quando fosse dia me deixasses
Em minhas mãos, caricias voluptuosas

Caminhando no impossível de mãos dadas,
Em lentos, belos e terríveis minutos,
Que se escondem com angustia nas escadas
Que descemos com nossas almas em soluços.

Se viesses de noite e me acordasses
Com os teus beijos, macios e furtivos,
E como sendo noite me arrastasses,

P'ra um jardim de sonhos proibidos,
Onde o sonho e  mistério se ocultassem
E  olor dos narcisos perfumassem...

Piedade-6-9-00
Maria Isabel Galveias


PALAVRAS"4"

Palavras, palavras, só palavras,
Na tua boca, são sopros que deslizam,
As vezes ternas, outras vezes macabras,
Que me iludem e me aterrorizam.

Palavras doces que as vezes me dizes,
E me deixam a alma a cantar,
Mas ha momentos que são menos felizes,
São macabras só para me assustar.

Acreditei nas tuas mentiras ocas,
E nas verdades, não quis acreditar.
Como eram lindas tuas palavras ocas...

Tão convincentes, faziam-me sonhar.
Porem os sonhos são coisa tão pouca,
Que os esquecemos, logo, ao acordar...

Ramada, 19-9-2000
Maria Isabel Galveias

PALAVRAS.. "2"

Ai como são ocas as palavras loucas...
Como são fúteis vazias efémeras,
Nossas ilusões tão vagas, poucas,
Como são poucas e vagas as quimeras.

Deixa morrer amor, em mim a magoa,
Deixa que em meus olhos seque o pranto,
Lavar-me a chuva em sua pura agua,
E a luz da Lua tirar-me o quebranto.

Tenho por mim o mar enfurecido,
Luta ao meu lado, grande tempestade,
Ruge o trovão, no infinito escurecido,

Contra a indiferença  da tua maldade,
Rasgam os céus, relâmpagos medonhos
Ao ver ruir, todos os meus sonhos...!

Piedade, 30-8-2000
Maria Isabel Galveias

PALAVRAS
Palavras, leva-as o vento,
Diziam os antigos com  razão
Palavras doces de encantamento,
Levou-mas o vento ao corarão

De enlevo sábio, sem .merecimento,
Tuas palavras, fizeram-me sonhar
Imaginar viver num só momento,
Tudo o que a razão pode imaginar.

Palavras? Sim, o vento as levou,
Perderam-se, na noite escura e brumosa,
E o sonho, cansou-se de sonhar.

Abriu os olhos que em seu redor espraiou,
Manteve-se quieto, triste, silencioso,
Ouvindo o vento, palavras, murmurar.

Arroja,19-10-2000
Maria Isabel Galveias

ABANDONADA

Amei-te com paixão vencida e louca,
E tu o meu amor malbarataste
Levando doces beijos da minha boca,
Em troca dos amargos que deixaste.

Minha alma toda em unção te entreguei,
Mas essa entrega to não entendeste.
Não deste apreço a todo quanto dei,
Bem logo e depressa me esqueceste.

Corro pra casa na esperança vã de ver-te
De estares a minha espera e abraçar-me
Mas sempre que abro a porta a receber-me

Está somente o vazio que deixaste
Naquele dia em que de mim te despediste
Dizendo até logo, e não voltaste.

Piedade, 3 de Setembro de 2000
Maria Isabel Galveias

************

ALMA EM PEDAÇOS

Minha alma era do mais puro cristal.
Ao veres-te nela, de ti próprio duvidaste,
Não soubeste pegar-lhe, por teu mal,
E em mil pedacinhos a quebraste.

Meu corarão era, um puro diamante
Tão grande na pureza e no tamanho
Olhaste para ele, e num instante,
Roubaste-o, hoje e teu, já não o tenho.

Olhas agora os pedaços de cristal
Em que a minha alma transformaste
E  coração que por maldade me roubaste

E desgostosamente vez que o mal
Que me querias fazer e não pudeste,
Pois foi a ti próprio que o causaste.

Piedade, 4 de Setembro de
2000 Maria Isabel Galveias

***************
AMOR AO LUAR

Anda uma suave brisa a murmurar,
Frases doces de amor eterno, venturoso,
Estavas quieto, silencioso a meditar,
Não ouviste esse canto mavioso.

Esta brisa que nos traz o som de vozes,
Suaves calorosas, não as ouves?
Num dueto de amor fantasia,
Que nos cantam o melro e a cotovia.

Nunca de amor me falaste, ao Luar!
Porque não gostas dele, ~u presumo,
Ou será que nada tens para falar?

Falar de amor, no campo a luz da Lua,
Que traz a brisa leve que flutua,
E a mais bela expressão do verbo amar...

Piedade, 22-2-2000
Maria Isabel Galveias

************

AO CAIR DA TARDE

Já nos céus do ocidente finda a tarde
Pelas tépidas brisas balouçadas
As desmaiadas rosas desfolhadas
Caiem mansas na terra sem alarde

De vale em vale repetindo ao longe,
Na voz dos ecos morre suspiroso.
Como uma oração de casto monge
O cantar do rouxinol choroso

Que mistério de amor e de saudade
Vem sussurrar-me esta aura embalsamada?
Por que razão descai sem piedade

Neste cismar, que o coração me envolve
Com este  fogo quem em meu peito arde
Coisa ruim a quem nada comove

Arroja, 14-10-2005
Maria Isabel Galveias

**************

AZUL DO MAR

Se penso em ti fico d´azul vestida
Do azul do teu sorriso matinal,
Luz que é de boas novas embutida
Do amor germinando virginal.

Pensando em ti, risonha eu, te amo.
Beijo teu sorriso azul, da cor do mar
Que em suas ondas me leva a arrastar
Me surfa nesse sangue azul sem dano,

Prá praia dos teus olhos me conduz,
guardiã da sua luz, vigiarei
controlando teu sorriso que seduz

O azul do mar contém tod`essa luz.
Eu visto sua cor para te beijar,
Num beijo que é da cor azul do mar

Arroja, 22-10-2005

Maria Isabel Galveias
CAOS

Sobre escombros da fé, e da esperança,
Procurando em regiões supremas
Minha alma o trilho hoje não alcança
Perdido entre teorias e teoremas

Não sabem, os apóstolos sombrios,
Que  á luz da Ciência os homens estão frios,
Tudo se transformou num doloroso caos
Tornando seres bons, em egoístas, maus.

Não há um lírio que floresça num peito,
De piedade, de amor e de misericórdia...
Se brota uma virtude o vicio morde-a,

Perdeu-se da bondade o gesto e o jeito
Perante vilania e discórdia
Duma paz apodrecida em vão pleito

Arroja, 22 de Agosto de 2003
Maria Isabel Galveias

A ULTIMA VEZ

Beija a minha boca que esta fria,
Os meus olhos a morte já fechou,
Repara, as minhas mãos estão vazias,
A alma o meu corpo abandonou.

Chega de mansinho a minha porta,
Abraça o meu corpo já gelado,
Num abraço forte que o conforta,
Mesmo não se sentindo abraçado.

Recorda-te de mim, por piedade...
Não deixes que tenha vivido em vão,
Mesmo sem bater, meu coração,

Por ti ainda vai sentir saudade,
Foste para mim consolação,
Nesta vida feita de maldade.

Maria Isabel Galveias
13-7-2000

A TUA BOCA

Os teus lábios, vermelho vivo, são
Asas de fogo em trémulos adejos,
Chamas de rosas rubras, de desejos,
Labaredas sanguíneas de paixão

A tua boca é rúbido clarão
Dessa alma ardendo em rútilos lampejos,
Cadinho de coral onde meus beijos
Em mago incenso transformar-se vão.

Concha divina de pérolas cheia,
Mimo que o mar ofereceu à areia,
E na areia deixou, na maré vaza.

Na tua boca um céu purpúreo brilha
Um céu de nácar, céu de maravilha
Como numa manhã de Junho em brasa.
Maria Isabel Galveias

ALUCINAÇÃO

Pelo vale do silêncio anda o medo
Dando o braço á mais negra solidão
Murmurando atrocidades em segredo
Que aterrorizam o meu pobre coração

Afiguram-se almas tristes desgrenhadas
Que erguem ao céu seus pétreos dedos
Estarrecida corro louca alucinada
Pelo vale do silêncio e do medo

Grito, choro, presa de terror
Caio em buracos, tropeço nos sentidos
Suplicando a protecção dum puro amor

Mas só oiço os soluços e gemidos
De almas penadas que vagueiam sem sossego
Pelo vale do silêncio e do medo

MEU VERSO

Se o meu verso lograr guarida
Num seio, num colo que o conforte,
Encontrarei a paz na minha morte,
E partirei sem mágoas desta vida.

Como vês..., é pouco o que desejo:
Um abraço, um mimo, que acarinha...
E com certeza, ao partir sozinha,
Tua lembrança será o meu cortejo

Acredita não te estarei deixando...
Porque de noite, me hás de ver brilhando
Em cada uma estrela do Universo...

Se a bruma descer com o seu manto,
Não te deixes prostrar por teu espanto...
Tu me terás contigo no meu verso!

Maria Isabel Galveias

EXPERIÊNCIAS

Quiseste experimentar, eu acedi.
E tu, pensando que me enganavas,
Não viste que apenas te tornavas
Numa poção amarga que engoli

Eu queria saber se ainda vivia,
Alguma chama em minha alma vazia,
Por isso acedi ao teu desejo
Permitindo entre nós aquele beijo.

Depois tudo findou, e pouco importa.
Não conseguiste meu corpo incendiar,
Estremeci de frio, ao constatar,

Quem em mim só havia cinza fria...
Que o calor desse beijo não aquecia,
A minha alma, gelada que está morta!
Maria Isabel Galveias

AS PALAVRAS SÃO GARGANTA

Amor, estás perto, e estás tão longe,
Sinto-me triste na saudade macilenta
E neste entardecer em que o sol foge
Sinto roucas palavras na garganta

E quando  ouço ao telefone, tua voz,
tua inconfundível voz, quando me diz
amar-me cada vez mais. Fico feliz
as palavras são garganta, são mudez

ensina-me a amar sem sentir dores
ensina-me a ser planta a ser raiz,
única forma de te oferecer flores.

Serei o teu chão, amor se hoje vieres
Abraçar-me com o amor que me murmura
Palavras que são garganta, são ternura.

Arroja, 21-10-2005
Maria Isabel Galveias

NOSTALGIA

Amor, tu estás tão perto e estás tão longe,
E eu triste na saudade, que ela é tanta...
No suave entardecer em que o sol foge
Sinto roucas palavras na garganta

Quando ouço ao telefone a tua voz,
Inconfundível voz, quando me diz
Que me ama sempre mais... fico feliz
Mas penso, são garganta... chegam sós...

Ensina-me a amar sem sentir dores
Ensina-me a ser planta, a ser raiz,
Única forma, amor, de te dar flores

E serei o teu chão, se vieres hoje
Palavras são garganta, o que ela diz,
Não tardes mais, amor, que o tempo foge...
Arroja, 21-10-2005
Maria Isabel Galveias


COMUNHÃO

Minh’alma inteira sofre de tal sorte,
Meus amores minhas dores nela unidos
Que são também dela os meus sentidos,
O meu e o dela são o mesmo norte.

Unidas em meu corpo um elo forte
Nos prende eternamente -- e nos ouvidos
Sentimos sons iguais. Vemos floridos
As campinas e vales ao sul e norte

O mesmo diapasão é musicada
Sopra dentro de nós a mesma brisa
Os nossos corações -- dá luz, constela...

Anda nesta vida, espiritualizada
Plo mesmo amor comum se centraliza
A minha sombra com a sombra dela

Poceirão, 24-12-2003
Maria Isabel Galveias

CORRENDO PARA TI

Corro p'ra ti de olhos deslumbrados
o gosto a sangue e Sal meus sentidos,
De pés nus, e braços estendidos
Um puro beijo, nos meus lábios rosados.

Nosso segredo, e plos deuses interdito..
Como num ritual nos despiremos,
Teu beijo em minha boca, cala o grito
Em pleno êxtase, nos exaltaremos.

p'ro resto dos mortais somos proscritos,
Porem, perante nós não há temor,.
Sentindo o peso dos seus olhares malditos,

Elevamo-nos, no céu, como um condor,.
Gritaremos, o nosso amor abençoado,
Com lírios e narcisos, perfumado.

Arroja, 8-7—2000
Maria Isabel Galveias

DEIXAI QUE ESCREVA

Deixai que da minh`alma na folha delicada
Deixe cair meus versos, rudes pensamentos
Deixai quem em tristes rimas, uns nadas poeirentos,
Eu faça derramar da mente atribulada!...

Deixai que á  minh’alma, em chaga... destroçada
Vá inda buscar uns cantos tardos, lentos!...
Que logo os vendavais, aspérrimos, cruentos
Tudo irão arrojar na campa amargurada!

Mas isso que m´importa? Se dos males da vida
Nos pávidos, estranhos, enormes escarcéus
Se algo de bom tive, em rima assaz sentida

Que se rasgue o futuro os áditos, os véus!...
Quero rir sem cessar, embora em dor contida
Também as nuvens negras se englobam nos céus!

Ericeira, 22-10-2005

Maria Isabel Galveias

E...

Das minhas ilusões, eu fiz alfombras,
Mas já estão gastas de tanto as pisar.
Passeando, de noite, entre sombras,
Procurando a luz do teu olhar.

Das lágrimas choradas eu fiz rosas,
Dos soluços abafados, fiz jardim,
Por onde vão voando mariposas,
E o ruído do silencio, te afasta de mime

Oiço na noite a voz do impossível,
Que ressoa por entre os escombros,
Do sonho, só sonhado, inatingível.

Perante essa indiferença intransponível,
Lembrando, tudo aquilo que nós fomos,
Espero-te, dia após dia, impassível

Piedade, 1-10-2000
Maria Isabel Galveias

EM TEMPOS

Neste montado antes tão verdinho,
Sempre sozinha, andava vagueando,
Vendo os pica-peixes que voando,
Enchiam de vida o ribeirinho.

Seguia sempre só e sem destino
Parecia triste, mas só era sonhadora,
Vendo em negras nuvens luz de Aurora,
Meu coração era, do amor um paladino....

Minha alma, ansiosa de sonhar-te,
Por entre as verdes folhas dos sobreiros
Imaginando o Sol a acariciar-te

Aninhando-se em meu peito, e desta arte,
Amando-te e beijando-te sem receios,
Espalhava o seu amor por toda a parte...

Maria Isabel Galveias.
Ramada, 4-01-002 

ESCURIDÃO

Em escuridão anda minha alma atormentada,
Olha em seu redor e não vê nada,
Esta tudo negro nem uma sombra se distingue
Apenas só apenas a angustia que a deprime

Ainda não entendeu a razão,
De viver em perpetua escuridão,
Nem um clarãozinho ténue inefável
Ou uma luzinha ao fundo do túnel.

É tudo negro anda as apalpadelas
Não vê montanhas e tropeça nelas
Sente-se só carente fragilizada

Tropeça até em pequenas pedrinhas
Pobre alma triste em trevas embrenhada,
Sem saber nunca o chão em caminhas.

Piedade-6-9-00
Maria Isabel Galveias

ESQUECIMENTO

Minha alma geme e chora a tua ausência
Meu coração vai morrendo de saudade
Os meus sentidos não tem paciência
Meu corpo espera-te, cheio de ansiedade.

Tua memória de mim já se esqueceu.
A tua alma mesquinha esta gelada.
Teu corpo febril de todo arrefeceu
Calou-se-te a razão, já não diz nada.

A ventura que senti, de ti estar perto
De vez a alegria se afastou
Assim meu sonho de ouro feneceu

A tua vida de novo começou
Teu coração por outro foi desperto
Nem sei se algo entre nos aconteceu...!?

Piedade 20-8-00

Maria Isabel Galveias


FELICIDADE PERDIDA

A felicidade bateu-me a porta um dia
A sorrir pediu licença para entrar.
Não acreditei nela, que ironia,
Voltou-me as costas pra não mais voltar.

Mais tarde foi a ilusão quem bateu,
Mais afoita aí eu acreditei nela,
Mas então foi esta, que me perdeu,
Ao entrar pela porta saiu pela janela.

Fiquei ali sozinha a chorar,
Pela felicidade que não deixei entrar
E pela falsa ilusão perdida.

Fiz uma jura de não mais acreditar
E meu coração a sete chaves aferrolhar,
Porque desilusão basta uma, em toda a vida.

Piedade, 4 de Setembro de 2000
Maria Isabel Galveias

O MEU FIM....
Foi-se extinguindo a viva labareda
Que m´abrasava o coração ardente...
Vago magoada pela rua e a gente
Em conversas meu funeral segreda.

Não tenho no olhar a luz q’embebeda,
Foram-se as rosas do viver ridente...
Sou agora flor desfolhada -- somente
Da sepultura a crucial vereda.

Já vem chegando o tenebroso inverno...
E, nesse mal devorador e eterno,
Meu organismo já não mais resiste

Às punhaladas da estação do gelo...
E acabará como? Nem eu sei dizê-lo,
Talvez... só, desolado, frio, triste!

Poceirão, 24-12-2003
Maria Isabel Galveias

O RETRACTO DA MORTE

Para alguns tu serás linda
Brancal serena
Talvez com a cor marfínea
Ou marmórea  da açucena
Para outros Serás esquálida
De pele amarela pálida
Pra mim tens rosto obsceno
Disforme dantesco
Formado em arabesco
Do triângulo escaleno
Teu manto damasquilho
Confere-te um ar atroz
Com remendo farrapilha
Costurado com retrós
Procuro numa panóplia
A arma com que arrebanhas
Será foicinho ou gadanha
Mas lá não existe cópia
Da tua fantasmagórica
Arma com  que bucólica
O  estefanófero ornamentas
Transportas nas mãos sebentas
Carregadas estegómia
E julgam-te tão idónea
Não passas de estenocéfalo
Estenotermos da vida
Ou até mesmo esterculia
Fraca triste vã peculia
E depois de te enfeitarmos
Com estrelicias e nardos
Deixamos os nossos fardos
Carregados de mistério
Junto a ti no cemitério

Maria Isabel Galveias

  ÁTOMO

Sou apenas um átomo nada mais
Pequenina parcela de um ser
Que passa pela vida sem viver
Não encontrando átomos iguais

Rainha Momo de muitos carnavais
Em horas de vertigem e de calor
Bailando p´lo espaço dos mortais
Insensíveis aos sambas do amor

Sou da palavra a átona silaba
Muda fechada sem o menor som
Como brisa que passa e não sibila

Do gargalhar das gentes sou o tom
De grito mudo dolorido e baço
Sou partícula perdida no espaço

Arroja, 23-10-2005

AVENTURA

Atirei-me à aventura dos caminhos
Mas há outros limites, a montanha,
Vivi a minha vida, em remoinhos
Ufana de viver em tal façanha

Galopo á desfilada em meu corcel
Nem vejo a rapidez da galopada
Doidejo em alva espuma provo o mel
Néctar da tua boca doce molhada

Mas despertei dos mitos dos amores
Nada mais encontrei senão espinhos
Vendo do fundo abismo suas cores

Sofrendo tristemente minhas dores
Desventura e amores tão mesquinhos
Sombras num campo estéril sem ter flores

Maria Isabel Galveias

BRUMAS

Triste é um amor murchar pela incerteza...
O querer bem que alguém sentiu um dia
Amor bonito, farto e cheio de alegria
Vai-se espraiando em rio de tristeza.

Pela saudade que de tão antiga
Já nem dói tanto. Como em anuência
A uma escolha feita só de ausência
E de mistérios…Sucumbe à fadiga.

Aos poucos a névoa envolve aquele olhar
Nubla o sorriso, o jeito de falar,
Turva lembranças de um tempo risonho...

Perdido em brumas, vago é o recordar
E o amor, confuso, chega a perguntar
Se foi real ou se foi tudo um sonho.

Maria Isabel Galveias

CÁLICE DE FEL

O canto não encanta na gaiola,
A alma procura a alma que se completa;
O sonho tem a fórmula secreta
E a palavra tem a luz que consola.

O invólucro lentamente se estióla,
A mente observa o circo que vegeta;
O prazer proibido, apenas infecta,
Mas o sorriso de marfim consola!...

O coveiro cínico ri mau do agouro,
Sabe do acto crítico e duradouro...
Que destruirá as vestes no total escuro!

A inscrição na lápide apaga o diário...
A alma está livre para voo solitário,
Junta-s’enfim, ao mundo de quem é puro

Maria Isabel Galveias

CLAUSURA

Habitou minha alma em átrios colossais
Que o sol em labaredas envolvia,
Ali chorosa e triste ela vivia
Na noite semelhante a grutas abissais

Num mar de sentimentos se revolvia
Fundida em místicos e erráticos rituais
Confundida em seus medos em seus ais
Sem conseguir enxergar a luz do dia

Ali viveu, tão triste minha alma
Sem ver do céu o azul sem ver o mar
E sem sentir da terra seus odores

Não vendo alvorecer a manhã calma
Escrava que era então de suas dores
Ocultas que a faziam definhar

Arroja, 10-10 de 1998
Maria Isabel Galveia

CONDENADO

O coração é apaixonado, nada a fazer!
Ama, perdidamente em desatino,
O culpado deste amor é o destino,
Pois se ama loucamente é sem querer.

Por isso, foi ao tribunal da consciência,
Confessou com relutância, o seu pecado.
P´lo júri do preconceito foi julgado,
Aceitou, mau grado seu, a penitência.

Continua p´lo amor apaixonado,
Sofre e chora, sua enorme solidão,
Sente-se injustamente condenado,

Por orgulho, não implorou clemência,
Condenado a prisão perpétua sem perdão,
Tenta a pena cumprir, com paciência

Maria Isabel Galveias

Arroja, 20-2-1999


SEM NOME

À minha alma envolta em negros trajes
A pouca alegria que lhe trazes,
É efémera, de pouca duração.
Sempre que vejo o sol brilhar,
           É a tempestade, que se está a aproximar,
E já violento, ribomba o trovão.
Hoje está um dia primaveril,
Mas dentro de mim há mágoas mil,
Lágrimas choradas sem queixume,
Dor que me desatina, e ninguém vê,
As farpas que me ferem como lume.
Orgulhosa, não deixo perceber,
Minha alma amargurada,
Ninguém precisa ver,
Então eu riu à gargalhada,
Tento transmitir serenidade,
Calma paz felicidade,
Para que de mim  ninguém se ria
Mas de morrer sinto um desejo forte,
Desalentada chamo pela morte,
Mas sou obrigada a viver nesta agonia...

Arroja, 7 de Março de 2000  
Maria Isabel Galveias

A SAUDADE ANDA DESCALÇA

De noite anda a saudade descalça
Vagueando pla casa de mansinho
Vai lembrando toda noite a tua falta
A frieza que ficou no nosso ninho

Anda peregrina em passos ledos
Chora copiosa a falta que deixaste
Inundando toda a casa com seus medos
Da solidão que ficou quando abalaste

Anda desanda em passinhos leves
Parece ter receio de me acordar
Sabe serem meus sonos curtos leves

No seu silêncio nunca se apercebe
Do meu choro triste, o soluçar
E anda descalça amedrontada leve

Maria Isabel Galveias

DESILUSÕES

Dentro do coração, no côncavo do peito
Choro a grande ilusão de amor, desfalecida,
Dentre o gozo feliz, nostálgico da vida;
Já exangue, afinal, já morto, já desfeito.

Por visões que adorei num vago tempo incerto
Não sei por que razão avivo agora as magoas,
Num pranto doloroso e triste, como as aguas
Do mar grosso a bater sobre cosmo deserto.

Tu, ó doce visão da idade das tranças,
Todo meu puro e terno sentimento invade
E eu não sei o que fiz das minhas esperanças

Que de longe vão, perecem sem alarde
Se  houve em meu ser de compaixão e crença
Para sempre secou, como um rio de saudade

Maria Isabel Galveias
Arroja, 19-10-2005

Dia de S. Valentim

Hoje é dia dos namorados meu amor,
E fora do costume, não me deste uma flor...
Foi um dia de lágrimas para mim...
Só por que não sei, de quem és agora o Valentim.

Já não és meu, faz tanto tempo....!
Nada sei de ti, como o lamento!!!
Guardo em mim uma doce recordação,
Flores que não morrem no meu coração.

Quisera meu amor saber onde tu estás,
Se és feliz, se estás bem, e alguém te ama
Se ainda dás flores, ou se não dás....

Longe de ti têm espinhos os caminhos,
Vazia, sem ti na minha fria cama,
Sonho contigo, os meus sonhos sozinhos.

Maria Isabel Galveias
14 de Fevereiro de 2004

DISCUSSÕES
As flores do meu jardim
Discutem todas assim,
Mais ou menos deste modo:
Diz o nardo para a Rosa,
Menina és tão vaidosa,
Que incomodas a todos!

Ao Cravo diz a Saudade,
Por seres flor de liberdade,
Não te suponhas um deus...
Foi por acaso fortuito
Que te deram  esse culto,
Nenhum de nós te escolheu..!

Ao Gerânio  de cor berrante
Vermelha e cintilante,
Ao ver aquela disputa.
Diz a humilde Violeta,
Pequenina e discreta,
Eu não entro nesta luta...

O Malmequer pequenino,
Diz á Camélia baixinho:
Meninas, tenham juízo!
A Perpétua misteriosa,
Comenta com a Mimosa,
Que vaidoso é o Narciso!

A Laranjeira imponente,
Mostrando a toda a gente
O seu sumptuoso manto,
Muito orgulhosa diz,
Que toda a noiva feliz,
A leva ao casamento.

A Papoila escarlate,
Diz, por mais que me mata,
Vivemos impunemente,
Pois neste mundo de Deus,
Pudemos bradar aos céus,
Nada vive eternamente..!

O Crisântemo todo branco,
Contesta, olha que espanto,
É nossa sorte afinal...
Com essa conversa toda,
Acabamos sempre em boda,
Ou então, em funeral...!

Parem lá com o barulho,
Que me está a deixar surdo!
Grita irritado o Jasmim.
Pois não há nenhum mistério
Acabam  no cemitério,
Todas as flores do jardim.

Ao ouvir esta discussão,
Vejo que não temos razão
Para discutir assim.
Porque todos afinal,
Findamos por nosso mal.
Como as flores do meu Jardim...!

Ramada 29 de Fevereiro de 2000
Maria Isabel Galveias

É ISTO A VIDA!

Eu, filha do abandono frio e lúdico,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde o génese da infância,
A influência má dos signos do Zodíaco.

Dentro de mim este sofrer fatídico,
Este ambiente me causa impaciência...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Poceirão, 18-1-2006
Maria Isabel Galveias

ESCRITO NO PÓ
Nesta saudade que em mim deixaste
Debruçada  aos pés da noite infinda
Dessa noite em que foste e não voltaste
No desassossego de esperar-te ainda

Os sabores de muitas outras tardes
As noites malvadas, agrestes insones
Um cheiro acre a morte as invade
Nos cortinados velhos de cretone

Da nublada lua de morte e de cetim
Descem dançam sombras sobre mim
Macabras silhuetas insanos esgares

Escrevo sabendo, jamais tu as leres
Palavras escritas no imundo pó
Já que esqueceste quem deixaste só

Arroja, 25-1-2006
Maria Isabel Galveias

ESTE RIO QUE ME ATRAVESSA

Atravessa-me um rio caudaloso...
Pleno de águas negras e turvas no caudal,
Provocado p'lo meu pranto silencioso,
Agitado, em silencioso vendaval.

Passa em mim, em lento,ou forte remoinho
Como se me quisesse devastar,
Arrastando tudo, o que encontra no caminho,
Quem sabe minhas máguas lavar....

O seu caudal, mais aumenta mais inunda,
A minha alma, mais arrasta mais corrói...
Nessa água lodosa em que se afunda,

Á procura desse amor, que já se foi.
Atrás da foz do mar, ou em laguna.
Esquecido, nesta dor que tanto dói


Maria Isabel Galveias


EU QUERIA.....

Queria ser poeta ser maior
Elevar-me no céu, poder voar..
Com asas de águia, ou de condor
Pelo espaço, os meus versos espalhar

Queria, dos mortais, ser a maior
A quem todos pudessem invejar
Dar-me de corpo e alma, ao Amor
Conjugar no infinito, o verbo amar

Ter sobre a minha fronte, um resplendor.
Como têm os Santos no altar
Não ter um coração, sangrando, dor...

Não ter alma, no meu corpo de mulher
Ser uma pena, que no espaço anda a pairar
Voando leve, sem saber onde pousar....

Maria Isabel Galveias
21 de Maio de 2004

EU........

Eu sou muito mais, muito maior!
Posso com minhas mãos tocar o céu!
Tenho das estrelas o esplendor...!
Tudo isto, porque eu sou EU

Sou EU que vejo a vida cor de rosa,
E os pássaros voando rumo ao sul,
EU, que escrevo amor, em verso e prosa,
EU, que me sinto maior, que o Rei Saúl...

EU, tenho em meu redor um prado verde,
com papoilas escarlates a bailar,
EU, que em fontes cristalinas mato a sede,

EU, que oiço as cigarras a cantar,
EU, que vivo numa nuvem branca e leve,
EU, que vim ao mundo só para AMAR....!

Arroja, 15-11-2002
Maria Isabel Galveias

GRITOS!!

Em minha garganta estrangulo o grito
Da minha alma ardente como lume
Com seco pranto no meu coração aflito
Tento apagar o brasido do ciúme

Neste silêncio que me grita tanto
A tua ausência que tanto me dói
Neste meu quarto há em cada canto
Mágoa escondida que meu peito rói

Ai esta ânsia que tenho de ti!
Gastando o meu corpo dia após dia
Aquele grito calado que engoli

De orgulho ferido, eu então não vi
Que sem ti a vida, vida não seria
E que nessa hora, sem saber, morri.

Maria Isabel Galveias

HORAS BREVES

Horas breves do meu contentamento
Nunca me pareceu quando as tinha
Que fossem acabar tão depressinha
Em tão compridos dias de tormento

Aquelas torres que fundei no vento,
O vento as levou...já que as sustinha
Do mal que em mim ficou, a culpa é minha
Que sobre coisas vãs fiz fundamento

O amor, com rosto ledo, e vista branda
Prometendo quanto dele se deseja
Tudo possível faz, tudo assegura

Mas, quando numa alma reina e manda,
Como na minha fez, quer que se veja
Quão fugitivo é, quão pouco dura

Maria Isabel Galveias

ILUSÕES PERDIDAS

Quantos entes febris, a que o amor ofusca
Durante a vida, ansiosamente exaustos,
Não encontram, dessas visões em busca,
As Margaridas vãs dos ilusórios Faustos!

Na elegia dos sons os pássaros cantando
Os corações abrindo, entre emoções rufando,
Almas emocionadas lampejando clarões
Palpitam num fervor de alados corações

Filósofos titãs, filósofos insanos
Que destes turbilhões, destes oceanos
De lutas, paixões, sonhos e pensamentos

Espalham pelo mundo os clamorosos ventos
A que um Adamastor, terrível e profano
Vai destruindo os seus melhores intentos

Ramada, 23-5-2000
Maria Isabel Galveias

MADRUGADAS DE DOR

Madrugadas companheiras do vazio,
Onde estará dormindo quem eu quero?
Com quem se deita aquele que eu espero?
Com quem se aquece quando lá faz frio?

Madrugadas longas e sombrias,
Como lidar com seu silêncio agora?
Como saber quando é chegada a hora
De preencher as minhas mãos vazias?

Amanhecendo está e neste compasso
Da melodia - que sem sono traço -
De repetidas notas musicais,

Fecho a cortina e permanece escuro
Este lugar onde eu jamais me curo
Por não saber do dono dos meus ais.

Maria Isabel Galveias,
Arroja, 15 de Maio de 1999

MÁGOAS
Quando nasci, num mês de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.

Mais tarde da existência nos verdores
Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infância, nunca tive flores!

Volvendo á quadra azul da mocidade,
Minh'alma levo aflita à Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.

Cansada de chorar pelas estradas,
Exausta de pisar mágoas pisadas,
Hoje carrego a cruz de minhas dores!

Arroja, 22-2-2006
Maria Isabel Galveias

MALEITAS DO AMOR

Seca-as depressa uma palavra boa
Lágrimas causadas pela indiferença
Toda pena de amor, por mais que doa
No próprio amor encontra recompensa

Por um sorriso o amor tudo perdoa
Não há obstáculo que amor não vença
A mão que fere, o ferro que magoa
Amor transforma em luz a treva densa

O mal de amor só nesse amor tem cura
Se pela mão que o feriu não for curado
E depois de sofrer tanta amargura

Ai de quem muito amar não sendo amado
Ficando o coração despedaçado
Noutra parte há de em vão buscar ventura

Maria Isabel Galveias

MOÇAMBIQUE

Meu Moçambique tão querido
Saudades guardo sem fim
Desse teu calor amigo
Machambas que são jardim

Minha terra tão cheirosa
De acácias rubras floridas,
Jacarandás e mimosas,
Múltiplas flores coloridas

Minha cidade adorada
Banhada por aguas claras,
Quando amanheces rosada,

Minha pérola do Indico
Não sei encontrar palavras,
Para a saudade que sinto.

Piedade,27-8-00
Maria Isabel Galveias

MOCIDADE ROUBADA

Roubei á minha vida, a mocidade
Tirei á juventude todo o encanto,
Caminho embrulhada na saudade
Feito de desventura tenho um manto.

Os meus olhos cegaram sem te ver
Meus lábios ressequidos, estão calados,
Meus áureos dias, ficaram por viver
Meu coração ficou esquecido no passado

Caminhei pela vida desolada,
Sem nada merecer por sorte minha
Com a desdita e a tristeza de mão dada

Pisando estrada árida que continha
Uma escura e nebulosa madrugada,
Sem o alvor do Sol da manhãzinha.......

Maria Isabel Galveias
Ramada, 23 de Janeiro de 2000


OUTONO EM MIM
Tarde de Outono, cinzenta e triste
Uma chuva miudinha vai caindo
Nas árvores, num lamento que persiste
Folha  a folha lentamente as vai despindo

Já não são verdes, são douradas,
E as ruas cinzentas e molhadas
Recebem essas folhas que fenecem
Junto aos raios de sol que não aquecem

Com o Outono eu me identifico
São as lágrimas, chuva que em mim cai
Cinzento o meu olhar no infinito

Vendo nuvens brancas que passando
São levadas por vento, fraco, brando
Com um sol sem brilho que se esvai
Maria Isabel Galveias
Piedade, 22-10-1999 

PARA QUÊ?

Nunca mais sofrerei plos tempos idos,
Nem ferirei minh'alma com lembranças,
De tudo o que quis roubar-me a esperança,
Recordando momentos doloridos

Recordar sim instantes de alegria,
Meus momentos de risos, de encantos;
Os sucessos mesmo não sendo tantos,
Me deram momentos de orgulho, um dia.

Para quê desenterrar todo o passado,
Recordar tudo que foi indesejado
Que há muito tempo já se fez ausente?

Para isso já me basta a dor de agora...
A de saber que  também irá embora,
Tudo o que de bom tenho no presente.

20 de Agosto de 2013
Maria Isabel Galveias
PENSAMENTOS LÚBRICOS
Em cismas patológicas insanas,
É me grato cingir-me, a esta mania
Dar formas vivas, à categoria
Das organizações liliputianas;

Ser igual aos zimbórios e às lianas,
Ter o destino de uma larva fria,
Deixar enfim na tumba mais sombria
Este feixe de células humanas!

E enquanto imitando o demo iracundo,
Na orgia irracionalizada do mundo,
Gemem todos os vícios de uma vez,

Apraz-me, adstrita á tríade mesquinha
De num delta humilde, apodrecer sozinha
No silêncio de minha pequenez!

Poceirão, 16-1-2006
Maria Isabel Galveias

QUANDO NO MAR HÁ MAR

Amplas  praias rugindo o mar desfila,
Enquanto alem dardeja, o Sol da tarde
Em miriades de luz, rutilo, fuzila...
E no grito das gaivotas brama e arde

Nessa  singular, atroz promiscuidade,
Animais marinhos cantam em surdina
Esquecidos  da infâmia e da maldade,
Na praia cai a tarde em luz Divina

Do alto da falésia, meditando
Olhando ao longe o mar que vai bramindo
Passo horas sem fim, sempre sonhando

Partir naquele barco que partindo
Leva o meu sonho louco, ó puro engano
Pois fica muito além, deste oceano

Arroja, 8-2-2006
Maia Isabel Galveias
QUEDA....

Rasgou a minha alma, um grito agudo,
E desdobrei as asas pelos espaços,
Sem conseguir voar no céu escuro
Caí, desfalecida, nos teus braços.

Como ave que vai de ninho em ninho,
Beijo de fogo, que a volúpia encerra,
A minha alam mais rubra que o vinho,
Elevou-se no céu, mas caiu por terra.

Na plenitude heróica do meu ser,
Sem peias, sem pudor e sem razão
Abri os braços, dei-te o meu coração

Com sangue da minha alma fiz um verso
Que fez vibrar de luz todo o Universo
Com a Lua escondida em minha mão.

Ramada-6-9-2000
Maria Isabel Galveias


RIBEIRO PERDIDO

Ribeiro, que neste vale vais murmurando,
Enquanto o Sol se esconde, no Ocidente,
Á tua tranquila e vizinha gente,
Fazes adormecer com teu som brando.

Eu saudosa de outro tempo, estou velando,
Ouvindo murmurar tua corrente,
Com a dor em mim sempre presente...
Com minhas lágrimas a vou acrescentando...

E tu, que ledo para o mar caminhas...
Fazes-me pensar...tal é o som que deixas..
Que triste, vais chorando minhas mágoas.

Mas a verdade, é que tu te queixas
Por recolher em ti lágrimas minhas,
Porque elas turvam as tuas claras águas....

Maria Isabel Galveias,
 Ramada, 22-1-002


MONTE DOS  MILAGRES

Verdes e baixos vales, alta serra,
Duras e solitárias penedias...
Águas correntes, frescas fontes frias...
Testemunhas da dor que em mim se encerra.

De suspiros o ar, de pranto a terra
Encho, vós o sabeis, silvas sombrias,
Onde chorando vou, noites e dias,
Suplicar, que passe o mal que a mim se aferra...

Se o vosso silêncio, assim, me ouve
Os tristes pensamentos, só ele sente,
Os meus ais, de dor e de saudade

Ah! Não te espantes que em ti renove,
Mágoas passadas e presentes,
Pois tudo o que há em ti, é Piedade....

Maria Isabel Galveias, 
Ramada, 22-1-002


SÓ, NO MONTE

A mais formosa Ninfa aqui se banha,
Vê em espelho cristalino, a formosura,
A lembrança, o amor e a brandura,
Aqui por estes motes me acompanha.

Caminho passo a passo, com tamanha
Saudade, em meu peito, triste, dura...
Que viva me parece vã pintura,
Ora alegre vista, ora estranha.

Meu doce imaginar, tanto se enleva
Nestas doces visões, que por decerto
Tenho, não me engana o meu desejo,

Sem alma fico, que assim o céu se eleva,
Tão longe, de quem via de tão perto...
E quando torno a mim, quão só me vejo....!

Maria Isabel Galveias, Ramada, 22-01-002


AMOR ZANGADO

Que quer de mim o amor, que já não tenha?
Estes arrufos seus, não terão fim?
De mim, que por amor me desavim...
E assim cativa, o sigo, vá ou venha...

Ao fogo em que me queimo, junto lenha,
Choro na alma, quando meu olhar ri,
Se o amor isto não quer, que quer de mim?
Ah! Se quer matar-me, não se detenha...!

Aqui tem uma vida triste e breve...
Sujeita ao seu querer, e tão sujeita...!
Que tudo em suas mãos contem e deixa

Sobejando amor já, mas que aproveita?
Que só por me negar o que me deve,
De mim se agrava, e sem razão de queixa...

Maria Isabel Galveias.  
Ramada, 15 –01-002





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