sábado, janeiro 06, 2007

SILENCIO, PAZ OU SOLIDÃO?

Chegou do emprego cansada, afinal era o fim de uma semana de trabalho com um horário extenso e cansativo. Pensou para si própria que apesar do cansaço poderia ler todos os mails que não tinha lido, abrir todas as cartas que se foram amontoando ao longo da semana, ver televisão ou simplesmente não fazer nada e ir dormir cedo. Por volta das dez horas da noite, já estava a semicerrar os olhos e pensou que não tardaria muito em ir deitar-se e ler até adormecer. Aquele livro pousado na sua mesa de cabeceira à cerca de dois meses já a incomodava. Até era interessante, caso contrário já o teria posto de parte, simplesmente nos últimos tempos, só conseguia ler duas ou três paginas por noite. No entanto, ao ler um mail que um amigo lhe enviara, reparou num link de um site de musica. Não resistindo ao apelo implícito, foi ao PC , abriu o site indicado e com um sorriso pensou que este seu amigo de longa data sempre tivera bom gosto e a conhecia bem. Deliciada, não sentiu mais o sono e o cansaço e enquanto escutava a música, pegou numa caneta e em várias folhas brancas e começou a escrever. Era noite já alta e ela ouvindo musica de um site da Internet e a escrever os seus pensamentos mais íntimos, foi invadida por uma sensação de conforto e de paz, como há muito não sentia. De tempos a tempos, parava de escrever, fechava os olhos e languidamente deixava que a musica a invadisse, transportando-a para mundos de sonhos e fantasia, de amor e sensualidade. Pensava nele, mas estranhamente não se sentia sozinha ou triste. A solidão por vezes fazia-se sentir, mas ela ao contrário de muita gente, até gostava de alguns momentos em que se sentia afastada de tudo e do silencio que a rodeava. Lembrou-se de uma grande amiga, que se lamentava muitas vezes, por não ter um minuto que fosse, só para estar com ela própria, sozinha e em silêncio total. A noite avançava e ela pensava em todas as pessoas que tinham feito parte da sua vida. Teve saudades dos amigos que não abraçava havia tempo, dos amigos que já tinham partido prematuramente, dos amores que tivera, nas oportunidades não aproveitadas. Sentia que grande parte da sua vida já tinha passado, no entanto isso não a entristeceu, pelo contrário, fez com que ela entendesse, naquela noite de primavera e de repentina insónia, que queria continuar a viver intensamente todos os momentos, como aquele em que sozinha e em silencio apenas lhe chegavam baixinho os sons da musica. Bem haja o seu amigo, por lhe ter lembrado que a música Era uma grande companheira. Tranquilizante e sadia. Quem se sentia só? Ela? Não jamais. Arroja, 20-12-1999 Maria Isabel Galveias -

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