sábado, janeiro 06, 2007

ROSALINDA

Rosalinda..., como o destino fora irónico.... Quem lhe pôs semelhante nome, não reparou por certo, o quanto ela não era Rosa, e muito menos linda,bem pelo contrário. Era um moça gorda, disforme, com um rosto a atirar para o grotesco, somente os seus olhos eram lindos, sim, os olhos de Rosalinda eram dum cambiante de cores entre o azul, e o verde, passando ocasionalmente pelo cinza. Expressivos, risonhos, francos, sinceros e amigos, mas era tudo. Embora feia, Rosalinda era uma garota amorosa, amava tudo e todos, amava qualquer coisa, só não amava a si própria. Tinha vivido na esperança de encontrar alguém que a amasse, risonhamente dizia: -Conheço tantas mulheres feias, gordas e desengonçadas que arranjam quem as ame,porque não hei de eu arranjar alguém? Só que o tempo passou, conheceu alguns rapazes que lhe juraram amor, porém todos se aproveitaram do seu doce coração, usaram e abusaram da sua bondade, e partiram, deixando Rosalinda, triste, inconsolável na sua solidão. Quem conheceu Rosalinda, de perto, como eu, teve por certo ocasião de perceber, que, por detrás daquela figura quase grotesca, se alojava uma alma linda, doce e sensível, abnegada, capaz dos maiores sacrifícios para ajudar quem lhe estava próximo; O seu olhar meigo, apenas pedia um pouco de amor, mas nunca o conseguiu de ninguém. E lá foi vivendo Rosalinda, vendo os dias passando, o tempo se escoando, sem ter alguém que lhe desse o devido apreço. Inteligente, com uma cultura geral apreciável, era de certa forma invejada pelas colegas, que muitas vezes se valiam do seu valor, para em circunstâncias várias serem por ela auxiliadas. Pobre Rosalinda, quando precisava de auxílio, estava sempre sozinha, só comigo contava, só comigo desabafava, eu era a sua única amiga, desde os bancos da escola. Chegaram as novas tecnologias, e, Rosalinda, acompanhou a evolução dos tempos. Curiosa, enquanto não aprendeu a mexer nos computadores, não descansou. Veio a internet, e, lá estava Rosalinda na vanguarda..... A net era a sua companhia, lá conheceu muita gente, e, curiosamente, encontrou quem a amasse... Pudera dizia risonha, não me conhecem... Espantoso, quem a conheceu através da net, achava Rosalinda uma mulher linda.... Teve vários pretendentes, com todos flertou, brincou e se divertiu. Rápida na resposta, inteligente no uso das palavras, era o encanto e a força motriz de qualquer sala de conversa, dinamizava tudo e todos. Pediam-lhe fotos, e aí, ao verem aquele rosto grotesco onde só os olhos brilhavam, houve alguns que continuaram sendo seus amigos, mas os namorados, esses deixavam de lhe escrever.....embora ela não os levasse a sério, sofria com a atitude deles. Um dia, um pediu-lhe para falar com ela no messenger, ela acedeu. Ele falava-lhe de amor, com tanta ternura, que, ela sem querer se deixou envolver, apaixonando-se de verdade. Ele vira as fotos dela, e continuava a falar de amor. Rosalinda, sonhou então, que finalmente encontrara a forma do seu sapato. Vivia empolgada, anelante, esperando a hora dele chegar e lhe falar daquele amor tão sonhado. Era feliz. Tão feliz, que, eu, não fui capaz de a contradizer e aconselhar, nem ela admitia conselhos, nunca a vira tão entusiasmada com alguém. Até que um dia, ela esperou, mas ele não apareceu. Qualquer coisa o impediu, dizia ela, não querendo acreditar que lhe mentira, que fora mais um que com ela brincara. Passou o tempo, ela todos os dias aquela hora de sempre lá estava. Mas ele não aparecia. Nunca mais apareceu. Desesperada, telefonou-me a chorar, dizendo: Amiga, porque me fez isto? Eu não pedi nada, nem o conhecia, porque brincou assim com os meus sentimentos mais puros? Nunca a vira assim. Ontem, telefonou-me uma vizinha de Rosalinda, preocupada, pois já não a via há alguns dias. Telefonei-lhe, em vão, ninguém me atendeu, aflita, fui a sua casa, chamei os bombeiros e a polícia, arrombamos a porta, e lá estava Rosalinda, deitada na sua cama, inerte, morta. Havia uma tal paz no seu rosto, que, paradoxalmente, estava bonito. A morte dera razão ao nome de Rosalinda. Aquele amor cibernético, que a iludira e lhe mentira, foi a gota de água, no seu cálice de amargura, pusera fim á sua triste vida.... Como as pessoas, podem ser más e ignorantes.... Como se podem esquecer, que, para lá da tela, há certamente alguém, que embora tratado com virtualidade, não é tão virtual assim. Existem para além da tela, pessoas, com uma alma e um coração, e, se alguém se apaixona por essa alma e esse coração, porque se importam com o "envelope" que os envolve? Rosalinda, não era Rosa nem Linda, por fora.... Mas era uma Rosalinda por dentro........... Pena ninguém ter reparado! Arroja, 31 de Julho de 2004 Maria Isabel Galveias

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